domingo, 3 de novembro de 2013

ESCOLA DRAMÁTICA

NOITE – 8/10/1912

O THEATRO NACIONAL E OS ALUNOS DA ESCOLA DRAMÁTICA

Algumas opiniões sobre o contrato “La Teatral”

A assinatura do contrato com “La Teatral” veio por em sobressalto, com justificada razão, toda a gente que se interessa pelo renascimento do Teatro Nacional, especialmente agora que a presente experiência, no Municipal, demonstra claramente que a tentativa tem toda a razão de a ser um fato positivo.
O alarme que esse contrato alastrou nas rodas artísticas foi intenso. O contrato, entregando o Municipal a uma empresa estrangeira, tirava o prédio ao Teatro Nacional. Ora o contrato, que tem sido detidamente estudado por toda a gente, só promete companhias caras, e dá à Prefeitura o imposto de 5% sobre a receita que toda a companhia estrangeira é obrigada a pagar!
Como se vê é um negócio da China para a empresa “La Teatral”.
Uma das classes mais feridas indiretamente com esse contrato é, de certo, a dos alunos da Escola Dramática. Esses moços, que têm perdido tempo em frequentar as aulas dum curso especial, certamente que contavam cegamente com o estabelecimento oficial do Teatro Nacional.
Para ouvir o que eles pensam a tal respeito a A NOITE foi até a Escola Dramática. Isto foi no sábado.
A aula tinha terminado havia minutos. Os alunos, entretanto, comentavam a sua situação em face ao contrato de “La Teatral”, tomando por todos como um sopro outoniço que faz desfolhar as últimas flores da esperança...
O Sr. Manoel Bernardino, muito moço e muito simpático, declarou logo:
- O contrato de “La Teatral”, assinado agora, vem desfazer todas as nossas ilusões sobre o Teatro Nacional. Esse contrato entrega o Municipal, até agora indicado para a ressurreição da nossa arte dramática, a uma empresa estrangeira, e no mais longe possível – de maio a outubro. Que tempo fica então para o nosso teatro? Fica-nos a pior época do ano, quando todo mundo que pode vai veranear para Petrópolis, para Friburgo, quando nem sequer funciona mais o Congresso... Isso ainda na melhor hipótese, na hipótese de conseguirmos o Teatro Nacional. Entretanto a Prefeitura, com a sustentação da Escola Dramática, dava-nos a esperança de que, fazendo atores, faria também a companhia, impulsionando o Teatro Nacional. Moralmente a prefeitura tem a obrigação restrita de dotar a capital com o teatro organizado...
- De certo! Exclamariam os outros alunos presentes, que eram: Sr. Durval de Assis Baptista, José Collaço, Gilberto Pereira Goulart, Mario Domingues, Ignácio Pinella e Heitor Thompson.
E logo depois o Sr. Durval Baptista continuou:
- Se a prefeitura não organizar o Teatro Nacional, que faremos nós depois do curso, perdemos outras carreiras? Iremos, como quer o colega do Sr. Passos, para o teatro por sessões? Certamente que não.
- Mas a Prefeitura acrescenta o Sr. Gilberto Pereira, como muito bem diz A NOITE, tem a obrigação de nos dar um outro teatro. Não é possível fazê-lo no Municipal? Arrende-se um outro ...
- Exatamente (adianta o Sr. Mario Domingues), alugue-se outro teatro e dilate-se, pelo menos por dez meses ativos, o prazo anual do funcionamento da companhia nacional.
- Então os Srs. dar-se-ão por satisfeitos?...
- Ser a Prefeitura criar desde já o Teatro Nacional ainda que seja numa pequena casa de espetáculos, mas que o crie a sério, definitivamente, desde que a atual experiência no Municipal seja aprovada pela opinião pública.
Nós, os alunos da Escola Dramática, como a maioria dos artistas, não fazemos questão de casa, fazemos apenas questão de teatro, mas de teatro nacional, sério, de fins honestos e elevados.


O TEATRO NACIONAL

Entregue, como está, a Eduardo Victorino, a experiência do novo teatro nacional deve triunfar.
Eduardo Victorino é um ensaiador competente, é ainda um excelente administrador teatral; conhece a fundo o teatro e está senhor de todos os recursos e defeitos com que se pode contar no nosso meio artístico.
Já no Recreio, com a companhia Dias Braga, Eduardo Victorino conseguiu um resultado admirável – por essa época assistimos o Recreio, com os elementos que tinha, dar-nos o desempenho inolvidável da “Honra”. A vontade de Eduardo Victorino, por essa ocasião, não pode desfazer os erros tradicionalistas da empresa e a tentativa, depois, fracassou. É que a rotina é a maior e a mais forte muralha que sempre se levanta contra as boas iniciativas.
Desta vez, Eduardo Victorino, no Municipal, tem um grande trabalho já preparado e já iniciado.
O elenco da companhia, por exemplo, já Victorino o tem mais ou menos apalavrado. Já se diz que a peça de estreia será a de D. Julia Lopes de Almeida – “Não matarás”, seguindo-se o “Canto sem Palavras” do Sr. Roberto Gomes. Para essa peça já foi o cenógrafo Angelo Lazary a Petrópolis, tirar “croquis” do natural.
Numa cena, que custará vários contos de réis, Eduardo Victorino vai oferecer ao nosso público uma verdadeira novidade de cenografia que será de um efeito maravilhoso.

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