domingo, 26 de maio de 2013






NOITE – 3/10/1912
Notícias
A COMPANHIA NACIONAL
Hoje não há espetáculo no Municipal.
Para amanhã está anunciada a peça de D. Julia Lopes de Almeida – “Quem não perdoa”.
Para muita gente o Teatro Municipal, tão cheio de mármores, de dourados, de tapetes e de poltronas ricas, precisa de toilette especial. Deve-se acabar com esse preconceito. Quem quiser ir ao Municipal deve ir como se fosse às outras companhias, nos teatros populares. Só as primeiras, no Municipal, obrigam ao apuro da toilette. As outras representações são sem exageros de elegância.
Para a próxima semana será levada à cena a peça de Roberto Gomes – “Canto sem palavras”, estamos já em adiantados ensaios a peça de João do Rio – “A bella Madame Vargas”.

A FUTURA TEMPORADA E A PREFEITURA – A CAMINHO DE ERROS

A Prefeitura, com o espanto de toda a gente, na antevéspera da inauguração da experiência do Teatro Nacional, inauguração que foi triunfante, entregou o Teatro Municipal até outubro de cada ano, à empresa “La Teatrale”, para exploração de companhias estrangeiras.
O contrato é de uma escandalosa fraqueza de administração e denuncia a nenhuma esperança que o diretor do Municipal tinha, talvez, no resultado da presente experiência.
Ora, Roma não se fez num dia e o Teatro Nacional, dirigido com a energia e o vigor de que Eduardo Victorino deu provas na atual situação, não se há de fazer em dois meses.
Serão precisos alguns anos de tenacidade e de esforço, a fim de se ir provocando o pleno desabrochar das aptidões teatrais dos escritores, pois que está flagrantemente demonstrado que não são artistas o que nos falta, nem sequer os cenógrafos. Falta-nos a literatura teatral, que é uma especialidade difícil, porque não tem havido teatro até hoje, e é da literatura teatral que vivem os atores, os cenógrafos e até os porteiros de teatro.
A atual tentativa vai dar-nos dois autores novos de flagrantes aptidões para o Teatro – Roberto Gomes e João do Rio. Há outras aptidões desconhecidas e muitas outras, como Oscar Lopes, Pinto da Rocha, Arinos Pimentel, etc., desviados de produzir para o Teatro por falta de teatro de comédia regular.
Ora, a Prefeitura não vai querer apenas, todos os anos, durante dois reduzidos meses, ter um simulacro de Teatro Nacional no Municipal, porque é difícil manter uma companhia homogênea; sempre tendente a melhorar, trabalhar apenas dois meses por ano.
Qual é o artista que se vai sujeitar a rolar ao azar durante dez longos meses para só ter trabalho garantido em dois?
Naturalmente os artistas hão de procurar contratos e há certos contratos que não podem ser reduzidos ou discutidos.
Certamente a Prefeitura não pensou nisso ao assinar o contrato com “La Teatrale”, deixando-se levar no engodo de que o Teatro Nacional pode ser, não uma obrigação, mas um passatempo.
Entretanto o Teatro Nacional deve ser, para a Prefeitura, uma preocupação séria que tem sido descurada até agora, especialmente com o escandaloso descaso com que Da Rosa o tratou. A Prefeitura, que recebe uma renda especial para fomentar e manter o Teatro Nacional, com um pesado imposto sobre as companhias estrangeiras, está na obrigação moral de empregar todos os esforços para criar o Teatro Nacional.
A atual experiência veio demonstrar que a obra a se fazer a tal respeito é de fácil continuação. Basta o teatro e basta uma subvenção. Ora, para se fazer uma coisa séria é preciso tempo, perseverança e dinheiro. Dilate a Prefeitura o tempo de existência do Teatro Nacional, e dê, dos 350 contos que tem a receber, apenas 120 contos para essa tentativa e verá que dentro de dois anos os resultados colhidos serão flagrantes e compensadores.


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