terça-feira, 15 de outubro de 2013

O THEATRO NACIONAL






GAZETA – 7/10/1912

GAZETA THEATRAL – O THEATRO NACIONAL

Vai tomando vulto o caso do ressurgimento do nosso teatro. Todos os dias os jornais vem publicando artigos prós ou contras à tentativa de agora. É sinal que essa tentativa representa alguma coisa de útil. Certo, não se discutem inutilidades.
Ontem ainda quase todos os nossos diários publicavam artigos sobre esse mesmo assunto, sendo que alguns deles traziam mais de um até...
E dos nossos mais brilhantes cronistas, com grande critério e largueza de vistas, comentavam igualmente o assunto.
De resto, ele é digno dessa atenção. Convenhamos: esse caso do teatro nacional é sem dúvida mais sério do que se imagina. O teatro representa na literatura de um povo alguma coisa da sua vida, da sua feição, do seu valor.
- Mas a que vem essa discussão, se a tentativa se apresenta de um modo tão promissor?
- Vem do fato de ter, na véspera da inauguração dessa tentativa, que está provocando até o incitamento, um tanto forte é verdade da crítica, a Prefeitura, com grande descaso para o assunto, arrendado o seu único teatro a uma empresa estrangeira. E por três anos. E, pior ainda, com direito à prorrogação...
- Daí?
- Daí: ela julgava falha a tentativa antes de vê-la terminada, antes mesmo de vê-la iniciada. E isso, porque não se preocupou absolutamente do nosso teatro, tirando-lhe toda a possibilidade de manter uma temporada oficial no próximo ano, pois durante os melhores meses do ano ele estará nas mãos da empresa estrangeira, que vai aproveitá-lo para completar as “tournées” que muitas vezes enfraquecem em Buenos Aires.
Ora, tudo isso não deixa de revoltar. E revolta, primeiro: porque os poderes municipais mostram-se inteiramente esquerdos a um desejo digno já do nosso grau de civilização. Todos os povos cultos têm a sua arte dramática. E revolta tanto mais, porque, pela tentativa de agora, vemos que poderemos ter teatro e breve; há autores, há atores que falam desde nascença o português, que é a nossa língua, há cenógrafos...
Cabe à prefeitura: cabe antes ao Sr. Diretor do Teatro Municipal.
Mas a culpa direta no caso não que, não sabemos porque cargas d’água, depois do teatro pronto, precisa ser um engenheiro.
E como os poderes públicos municipais não têm às suas ordens outro teatro além do municipal, só ele poderá ser utilizado para essa obra meritória do levantamento do nosso teatro.

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