sábado, 22 de junho de 2013

A propósito ainda da peça de Julia Lopes





CORREIO DA MANHÃ – 3/10/1912
A propósito ainda da peça de Julia Lopes
Sobra a nossa crônica de ontem, a propósito da premiére, no teatro Municipal, do drama em três atos Quem não perdoa, recebemos de sua distinta autora, a exma. sra. d. Julia Lopes de Almeida, a seguinte carta, que publicamos integralmente:
“Sr. crítico teatral do Correio da Manhã.
Rogo-lhe, como maior obséquio, o favor de entender-se com o Sr. Eduardo Victorino, a quem pedirei que lhe confie o original da minha peça, ontem levada à cena no Municipal, para que v. ex., com mais vagar e atenção, que espero merecer-lhe, verifique a inexatidão da sua crítica de hoje nos seguintes pontos: no diálogo do 2º ato, em que v.ex. diz que “D. Elvira aconselha a filha que se algum dia tiver um amante nunca deixe chegar ao conhecimento do marido”, quando o que a mãe aconselha é que, se a filha tiver algum dia amor por outro homem, esconda tão bem esse sentimento de toda gente que nem mesmo a pessoa que o inspirou possa suspeitar de sua existência. Logo adiante afirma v.ex. que o engenheiro é enganado por Manoel Ramires; ora, tal não se dá, visto que Ilda e Manoel não são amantes. Logo após afirma v.ex. que Ramires foge covardementeante a súbita aparição de Gustavo. Também não é exato. Ramires sai sem ter visto Gustavo.
Nenhum dos três tipos de mulher da minha peça é repelente, como assegura v.ex., nem a viúva tem um passado duvidoso, 1ª afirmação; nem a filha tem amante, 2ª afirmação; nem a tia tampouco o teve jamais, 3ª afirmação.
Quanto à aparição do Acaso na minha peça, afirma v.ex. que é devido a ele que os fâmulos se retiram, etc, quando a situação é preparada por Ilda, à vista dos espectadores, pedindo à mãe que saia a compras e mandando recados pelos criados.
Suponho que v.ex. tenha escrito de boa fé o seu artigo de crítica, espero que, com a leitura da peça, ou outra audição, caso isso lhe seja menos penoso, retifique no seu jornal as inexatidões que aqui deixo apontadas. Como claramente verá, retificados esses enganos, a peça nada tem de deprimente para a mulher brasileira que, por todos os modos tenho sempre procurado honrar. – De v.ex. patrícia muito atenta – Julia Lopes de Almeida.
Desvanecidos pela distinção com que a festejada escritora nos brindou, vamos corresponder ao seu apelo, antes mesmo de manusear o original da peça.
Quanto aos tipos, por nós capitulados de “repelentes”, sobre os quais a distinta escritora procura lançar o véu da misericórdia, seja-nos lícito ponderar que, no 2º ato, no diálogo entre mãe e filha, admito o nosso engano, pela únicaaudição a que assistimos, trocando “esse homem”, pelo “marido”, como verificamos na segunda representação da peça, o caso não muda de figura, porquanto, uma mãe honesta não formula a hipótese de que a sua filha, casada, embora não desfrutando completa felicidade doméstica, possa ter algum dia amor por outro homem que não o marido. A honradez da mulher que sofre restrições não é mais honradez, é desbrio que se apodera da consciência e conduz ao vitupério, infalivelmente.
Mulher casada que pretende conservar a pureza de alma não se expõe ao perigo de criar afeições extraconjugais, e uma mãe que deixa entrever semelhante possibilidade, transforma-se em corruptora da filha. Involuntária, mas em todo o caso, corruptora. Tal tipo de mulher a doutrinar sobre paixões incubadas, lá do tablado do palco, na nossa humilde opinião, torna-se repulsiva, simplesmente.
A respeito do isolamento proposital de Hilda, para conversar à vontade com Ramirez, a dramaturga nos afirma que a entrevista não fora casual, mas sim premeditada, porque a esposa do engenheiro convidou o jovem a ir a sua casa.
Desfaça-se, embora, o lance tal qual nós o entendemos, a inverosimilhança da situação permanece inalterada.
Hilda, conseguindo afastar todas as pessoas da casa, de que modo se livraria da presença do marido também, se, em auxílio desse plano não viesse, minutos antes, o Faustpara levá-lo ao telégrafo?
Contava Hilda com a ausência do esposo, quando Ramirez chegasse? Não contava. Como então ela convidou o apaixonado para uma entrevista de despedida, desde que não tinha certeza do afastamento de seu marido?
Eis a incoerência da cena, quer fosse a entrevista proposital, quer casual.
Tipo repelente, esse de Hilda, que, sem uma razão plausível, de honesta, que fora, pura, educada aos sãos preceitos da moralidade e do amor da família, surge inesperadamente uma leviana, que esquece os deveres de esposa, escreve ao apaixonado (apaixonado bisonho e renitente às expressões amorosas da jovem), fecha-se a sós com ele, e afinal o aperta em fogoso amplexo. O homem a quem nunca devera ela dirigir o mais insignificante olhar de ternura...
E mulher de tal feitio, que há de inspirar senão repulsa?
A dona Angela, senhora casada, de língua solta e cabelos brancos, que discute com o aposentado ganimedes, amores já há muito fanados, será também tipo de inspirar simpatia?
E dizer que estas três criaturas femininas, foram ideadas para simbolizarem o caráter da mulher brasileira. Isso é o que no-las faz mais repugnantes...


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A propósito ainda da peça de Julia Lopes





CORREIO DA MANHÃ – 3/10/1912
A propósito ainda da peça de Julia Lopes
Sobra a nossa crônica de ontem, a propósito da premiére, no teatro Municipal, do drama em três atos Quem não perdoa, recebemos de sua distinta autora, a exma. sra. d. Julia Lopes de Almeida, a seguinte carta, que publicamos integralmente:
“Sr. crítico teatral do Correio da Manhã.
Rogo-lhe, como maior obséquio, o favor de entender-se com o Sr. Eduardo Victorino, a quem pedirei que lhe confie o original da minha peça, ontem levada à cena no Municipal, para que v. ex., com mais vagar e atenção, que espero merecer-lhe, verifique a inexatidão da sua crítica de hoje nos seguintes pontos: no diálogo do 2º ato, em que v.ex. diz que “D. Elvira aconselha a filha que se algum dia tiver um amante nunca deixe chegar ao conhecimento do marido”, quando o que a mãe aconselha é que, se a filha tiver algum dia amor por outro homem, esconda tão bem esse sentimento de toda gente que nem mesmo a pessoa que o inspirou possa suspeitar de sua existência. Logo adiante afirma v.ex. que o engenheiro é enganado por Manoel Ramires; ora, tal não se dá, visto que Ilda e Manoel não são amantes. Logo após afirma v.ex. que Ramires foge covardemente ante a súbita aparição de Gustavo. Também não é exato. Ramires sai sem ter visto Gustavo.
Nenhum dos três tipos de mulher da minha peça é repelente, como assegura v.ex., nem a viúva tem um passado duvidoso, 1ª afirmação; nem a filha tem amante, 2ª afirmação; nem a tia tampouco o teve jamais, 3ª afirmação.
Quanto à aparição do Acaso na minha peça, afirma v.ex. que é devido a ele que os fâmulos se retiram, etc, quando a situação é preparada por Ilda, à vista dos espectadores, pedindo à mãe que saia a compras e mandando recados pelos criados.
Suponho que v.ex. tenha escrito de boa fé o seu artigo de crítica, espero que, com a leitura da peça, ou outra audição, caso isso lhe seja menos penoso, retifique no seu jornal as inexatidões que aqui deixo apontadas. Como claramente verá, retificados esses enganos, a peça nada tem de deprimente para a mulher brasileira que, por todos os modos tenho sempre procurado honrar. – De v.ex. patrícia muito atenta – Julia Lopes de Almeida.
Desvanecidos pela distinção com que a festejada escritora nos brindou, vamos corresponder ao seu apelo, antes mesmo de manusear o original da peça.
Quanto aos tipos, por nós capitulados de “repelentes”, sobre os quais a distinta escritora procura lançar o véu da misericórdia, seja-nos lícito ponderar que, no 2º ato, no diálogo entre mãe e filha, admito o nosso engano, pela única audição a que assistimos, trocando “esse homem”, pelo “marido”, como verificamos na segunda representação da peça, o caso não muda de figura, porquanto, uma mãe honesta não formula a hipótese de que a sua filha, casada, embora não desfrutando completa felicidade doméstica, possa ter algum dia amor por outro homem que não o marido. A honradez da mulher que sofre restrições não é mais honradez, é desbrio que se apodera da consciência e conduz ao vitupério, infalivelmente.
Mulher casada que pretende conservar a pureza de alma não se expõe ao perigo de criar afeições extraconjugais, e uma mãe que deixa entrever semelhante possibilidade, transforma-se em corruptora da filha. Involuntária, mas em todo o caso, corruptora. Tal tipo de mulher a doutrinar sobre paixões incubadas, lá do tablado do palco, na nossa humilde opinião, torna-se repulsiva, simplesmente.
A respeito do isolamento proposital de Hilda, para conversar à vontade com Ramirez, a dramaturga nos afirma que a entrevista não fora casual, mas sim premeditada, porque a esposa do engenheiro convidou o jovem a ir a sua casa.
Desfaça-se, embora, o lance tal qual nós o entendemos, a inverosimilhança da situação permanece inalterada.
Hilda, conseguindo afastar todas as pessoas da casa, de que modo se livraria da presença do marido também, se, em auxílio desse plano não viesse, minutos antes, o Faust para levá-lo ao telégrafo?
Contava Hilda com a ausência do esposo, quando Ramirez chegasse? Não contava. Como então ela convidou o apaixonado para uma entrevista de despedida, desde que não tinha certeza do afastamento de seu marido?
Eis a incoerência da cena, quer fosse a entrevista proposital, quer casual.
Tipo repelente, esse de Hilda, que, sem uma razão plausível, de honesta, que fora, pura, educada aos sãos preceitos da moralidade e do amor da família, surge inesperadamente uma leviana, que esquece os deveres de esposa, escreve ao apaixonado (apaixonado bisonho e renitente às expressões amorosas da jovem), fecha-se a sós com ele, e afinal o aperta em fogoso amplexo. O homem a quem nunca devera ela dirigir o mais insignificante olhar de ternura...
E mulher de tal feitio, que há de inspirar senão repulsa?
A dona Angela, senhora casada, de língua solta e cabelos brancos, que discute com o aposentado ganimedes, amores já há muito fanados, será também tipo de inspirar simpatia?
E dizer que estas três criaturas femininas, foram ideadas para simbolizarem o caráter da mulher brasileira. Isso é o que no-las faz mais repugnantes...


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sábado, 15 de junho de 2013

A VIDA ENTRE BASTIDORES

IMPRENSA – 3/10/1912
A VIDA ENTRE BASTIDORES – UMA PALESTRA NO MUNICIPAL
Eduardo Victorino, o empresário subvencionado do Municipal, é um antigo jornalista, que em tempo foi dos mais laboriosos e inteligentes auxiliares da imprensa carioca.
Encontramo-lo ontem em seu gabinete de diretor, no Municipal.
Em conversa, pedimos notícia sobre a vida entre os bastidores daquele teatro.
- Vai tudo maravilhosamente, meu caro!
Pergunta-me, como quem as espera sempre neste meio, pelas intriguinhas?...
Mas as intriguinhas lá se foram!...
Eu organizei cá dentro, com a boa vontade dos antigos e dos novos, (que valha a verdade, são de uma boa vontade digna de nota) uma verdadeira profilaxia contra a intriga.
Nem ela existe cá, nem entrará, posso garanti-lo.
Estes dois meses que nos esperam serão de absoluta paz e concórdia.
- E corre tudo bem, no melhor dos mundos?
- Ah! mas é querer muito!
Há, sem dúvida, dificuldades. Elas existem sempre e em tudo. Vão-se, entretanto, removendo em tudo quanto se possa...
- Todos estamos numa excelente combinação que, com franqueza, é animadora.
Demais, todos já compreenderam que essa união é a base, o “sine qua non” da vitória...
- E o sucesso? Que nos diz das suas esperanças?
- O público já vai tomando verdadeiro interesse pela cena e a prova é que para ontem, para a primeira, não teve o teatro um único lugar vazio.
- Parece que não. O público já vai tomando verdadeiro interesse pela cena e a prova é que para ontem, para a primeira, não teve o teatro um único lugar vazio.
...Eduardo Victorino era solicitado pelo encarregado do arranjo da sala de imprensa, que lhe mereceu especial atenção.
Agradecemos-lhe os minutos que lhe roubamos e saímos do gabinete.
No espaçoso palco ia se encaixilhando o cenário do 1º ato do “Quem não perdoa”, de D. Julia Lopes.
J.M.


REPÚBLICA – 3/10/1912
A estreia da companhia nacional organizada pelo sr. Eduardo Victorino
Não era de se esperar outra coisa da competência do sr. Eduardo Victorino, o esforçado organizador da companhia que ontem estreou no Teatro Municipal.
A grande e bela casa de espetáculos esteve repleta do que há de mais seleto e distinto da nossa sociedade, que correu pressurosa para conhecer o novo trabalho da talentosa escritora d. Julia Lopes de Almeida, que, com tão belos auspícios, estreou no teatrinho da Exposição da Praia Vermelha, com escritora teatral.
O dificílimo gênero de literatura que tem dado muitas glórias aos que trabalham para ele e extraordinárias decepções para aqueles que não têm embocadura, foi ontem posto em evidência pela aplaudida romancista em uma peça vazada nos moldes dos que discutem teses da vida real.
Quem não perdoa é um drama em 3 atos, cuja urdidura, complicada não pode ser apreciada em uma primeira audição.
Há cenas felizes, conduzidas com muita verdade, que tiveram regular interpretação.
Os personagens que se movem na peça de d. Julia Lopes de Almeida não são ficções, encontramo-los em nosso meio, falam conosco, convivem em nossa sociedade, são, enfim, tipos reais e bem copiados.
O entrecho da peça prendeu a atenção da plateia, que, entusiasmada, saudou a autora com uma prolongada salva de palmas.
Eduardo Victorino, por seu lado, caprichou na montagem da peça e a ensaiou com carinho e os artistas que tomaram parte no Quem não perdoa, secundando-a, estiveram impecáveis.
Os principais papéis foram entregues a Maria Falcão, Lucilia Peres, Gabriela Montani, Corina Fróes, A. Ramos, Ferreira de Souza, que estiveram na altura da peça e da reputação artística que gosam.
O espetáculo terminou deixando ao público a melhor das impressões.
A tentativa levada a efeito por E. Victorino é hoje uma realidade e o Teatro Municipal teve ontem o seu mais auspicioso início.
Hoje repete-se a mesma peça.
E.X.


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A VIDA ENTRE BASTIDORES

IMPRENSA – 3/10/1912
A VIDA ENTRE BASTIDORES – UMA PALESTRA NO MUNICIPAL
Eduardo Victorino, o empresário subvencionado do Municipal, é um antigo jornalista, que em tempo foi dos mais laboriosos e inteligentes auxiliares da imprensa carioca.
Encontramo-lo ontem em seu gabinete de diretor, no Municipal.
Em conversa, pedimos notícia sobre a vida entre os bastidores daquele teatro.
- Vai tudo maravilhosamente, meu caro!
Pergunta-me, como quem as espera sempre neste meio, pelas intriguinhas?...
Mas as intriguinhas lá se foram!...
Eu organizei cá dentro, com a boa vontade dos antigos e dos novos, (que valha a verdade, são de uma boa vontade digna de nota) uma verdadeira profilaxia contra a intriga.
Nem ela existe cá, nem entrará, posso garanti-lo.
Estes dois meses que nos esperam serão de absoluta paz e concórdia.
- E corre tudo bem, no melhor dos mundos?
- Ah! mas é querer muito!
Há, sem dúvida, dificuldades. Elas existem sempre e em tudo. Vão-se, entretanto, removendo em tudo quanto se possa...
- Todos estamos numa excelente combinação que, com franqueza, é animadora.
Demais, todos já compreenderam que essa união é a base, o “sine qua non” da vitória...
- E o sucesso? Que nos diz das suas esperanças?
- O público já vai tomando verdadeiro interesse pela cena e a prova é que para ontem, para a primeira, não teve o teatro um único lugar vazio.
- Parece que não. O público já vai tomando verdadeiro interesse pela cena e a prova é que para ontem, para a primeira, não teve o teatro um único lugar vazio.
...Eduardo Victorino era solicitado pelo encarregado do arranjo da sala de imprensa, que lhe mereceu especial atenção.
Agradecemos-lhe os minutos que lhe roubamos e saímos do gabinete.
No espaçoso palco ia se encaixilhando o cenário do 1º ato do “Quem não perdoa”, de D. Julia Lopes.
J.M.


REPÚBLICA – 3/10/1912
A estreia da companhia nacional organizada pelo sr. Eduardo Victorino
Não era de se esperar outra coisa da competência do sr. Eduardo Victorino, o esforçado organizador da companhia que ontem estreou no Teatro Municipal.
A grande e bela casa de espetáculos esteve repleta do que há de mais seleto e distinto da nossa sociedade, que correu pressurosa para conhecer o novo trabalho da talentosa escritora d. Julia Lopes de Almeida, que, com tão belos auspícios, estreou no teatrinho da Exposição da Praia Vermelha, com escritora teatral.
O dificílimo gênero de literatura que tem dado muitas glórias aos que trabalham para ele e extraordinárias decepções para aqueles que não têm embocadura, foi ontem posto em evidência pela aplaudida romancista em uma peça vazada nos moldes dos que discutem teses da vida real.
Quem não perdoa é um drama em 3 atos, cuja urdidura, complicada não pode ser apreciada em uma primeira audição.
Há cenas felizes, conduzidas com muita verdade, que tiveram regular interpretação.
Os personagens que se movem na peça de d. Julia Lopes de Almeida não são ficções, encontramo-los em nosso meio, falam conosco, convivem em nossa sociedade, são, enfim, tipos reais e bem copiados.
O entrecho da peça prendeu a atenção da plateia, que, entusiasmada, saudou a autora com uma prolongada salva de palmas.
Eduardo Victorino, por seu lado, caprichou na montagem da peça e a ensaiou com carinho e os artistas que tomaram parte no Quem não perdoa, secundando-a, estiveram impecáveis.
Os principais papéis foram entregues a Maria Falcão, Lucilia Peres, Gabriela Montani, Corina Fróes, A. Ramos, Ferreira de Souza, que estiveram na altura da peça e da reputação artística que gosam.
O espetáculo terminou deixando ao público a melhor das impressões.
A tentativa levada a efeito por E. Victorino é hoje uma realidade e o Teatro Municipal teve ontem o seu mais auspicioso início.
Hoje repete-se a mesma peça.
E.X.


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sexta-feira, 7 de junho de 2013



NOTÍCIA – 2/10/1912

A ESTAÇÃO TEATRAL

A peça de D. Julia Lopes

Com uma excelente casa, uma linda plateia inaugurou-se ontem no Teatro Municipal a temporada oficial deste ano, com a estreia da companhia dramática, organizada pelo Sr. Eduardo Victorino.
Representou-se a peça em três atos de D. Julia Lopes de Almeida Quem não perdoa.
- Que vem a ser a peça?...
A peça é isto: Uma senhora viúva vive com sua filha e fica na contingência de ir vendendo os móveis.
Um dia, após a mãe ter negociado com o belchior Beirão a mobília e o piano, entra a filha um tanto alvoroçada, participando à mãe que tem alguma coisa a dizer-lhe.
Ilda diz a sua mãe que dentro em poucos minutos um moço virá pedi-la em casamento. Admiração de D. Elvira. Ilda conhecera-o em casa de umas alunas suas. E amara-o.
O Dr. Gustavo Ribas é recebido por D. Elvira, que lhe conta logo a vida e todas as dificuldades do seu lar, aconselhando-o a pensar bem, a refletir muito. Gustavo sai e Ilda que, naturalmente estava à espreita, entra e cai nos braços da mãe.
No segundo ato, em casa de Ilda, há doze anos casada com Gustavo, sua mãe consegue dela o juramento de que se ela chegar a amar outro homem, que não o seu marido, se sacrificará, mantendo pura a sua união com Gustavo. E conta que ela se havia também sacrificado. Vão chegando visitas – um casal, tios do marido de Ilda; um amigo da casa, o Sr. Fausto; um empregado de Gustavo... Sabe-se então que o marido de Ilda tem uma amante, a mulher do capitão Elias. As visitas saem, saem assim como D. Elvira, que vai fazer umas compras.
Ao retirar-se Ilda para o interior, Fausto, que ficara, conta a Gustavo que lhe disseram estar o Dr. Ramires, apaixonado por sua mulher. Gustavo pensa logo que sua mulher tem um amante.
Mal eles saem, Ilda despacha os criados em serviços demorados. É a hora da entrevista, a primeira e a única. Ramires chega. Declarações de amor. Ela já sabe que ele vai partir. Mandou chamá-lo para a despedida.
No momento de trocarem o beijo, chega o marido. Desvairado mata a mulher. Corre em procura de Ramires, que saíra, por uma outra porta, porque a casa tem duas entradas. Nisso a mãe de Ilda chega da cidade. Entra despreocupadamente. A filha já estava morta.
No dia do júri de Gustavo – é o terceiro ato – os tios, em casa dele, preparam a recepção. Certo, virá alguém. Chegam umas vizinhas, alguns amigos e por fim, Gustavo com o advogado e íntimos. Há música, canto, discursos, champagne. Gustavo sente-se aborrecido. Os visitantes saem. E ele fica só. Nesse momento, chega a mãe de Ilda. Atira-lhe ao rosto todas as dores que sente e, como mãe, é “quem não perdoa”: mata-o.
--------------------
A peça de D. Julia Lopes é um caso de observação da nossa sociedade burguesa. Há apenas, durante os três atos assassinatos demais... No primeiro ato, de exposição, não deixou de parecer estranho que uma menina, morando com a mamã, tenha um noivo e que esta só no dia do pedido oficial venha a ouvir pela primeira vez o nome do seu futuro genro. Não parece igualmente bem observado o rosário de coisas tristes com que a mamã abre todas as suas intimidades a um homem que vê pela primeira vez. No 2º ato há uma série de coincidências estranhas, sendo talvez a maior delas aquela entrevista, na própria casa da mulher casada que a marca, aquele rápido assassinato a faca, aquela morte rápida, sem um grito – pois que de faca não se morre assim tão calmamente, como ontem, tranquilamente morreu D. Lucilia Peres... Depois, o grito e tombo da mamã, antes de se certificar de que a filha está morta, parecem precipitados. Mas tudo isso talvez seja simples questão de rubrica.
A peça, que é bastante impressionante, ás vezes, tem de vez em quando essas pequeninas “descaídas” que fazem com que o espectador não a ache de todo natural.
D. Julia Lopes possuidora de um empolgante talento dramático, como o demonstrou cabalmente em todos os três finais de atos, não deixa de mostrar na sua peça uma certa inexperiência na “carpintaria” teatral, o que faz com que a peça “Quem não perdoa” falta de vez em quando uma determinada naturalidade. A entrada por exemplo daquele Fausto, no 2º ato, sem propósito nenhum, só para avisar o marido do que se anda a dizer da virtude da sua mulher, e a aconselhá-lo para que mande a mulher para uma fazenda, parece um enxerto bem pouco natural.
O 3º ato é um tanto episódico, para dar lugar à grande cena final, o 2º assassinato, em que a sogra apunhala o genro.
--------------------
- E o desempenho?...
Maria Falcão, Ferreira de Souza, Luiza de Oliveira, bem. D. Lucilia Peres não soube morrer. Ramos foi ás vezes de um ímpeto exagerado e que com certeza não está na rubrica da peça. João Barbosa, que não tinha papel, tinha em compensação uma gravata horrenda. A Sra. Corina Fróes, no 1º ato, deu o seu recado um tanto às pressas. O ator Octavio Rangel foi bem. Os outros, assim. É de louvar entretanto o esforço do Sr. Eduardo Victorino, competente e enérgico que em poucos dias pôde mostrar aos descrentes que nós podemos ter Teatro no dia em que houver um pouco de boa vontade.
A peça está muito decentemente montada. Os cenários de Jayme Silva, Lazary e Joaquim dos Santos mostram bem que neste capítulo nós nada temos a invejar o que vem de fora.
Nos finais de ato, a sala que estava repleta fez extraordinárias ovações à autora e aos artistas.


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NOTÍCIA – 2/10/1912

A ESTAÇÃO TEATRAL

A peça de D. Julia Lopes

Com uma excelente casa, uma linda plateia inaugurou-se ontem no Teatro Municipal a temporada oficial deste ano, com a estreia da companhia dramática, organizada pelo Sr. Eduardo Victorino.
Representou-se a peça em três atos de D. Julia Lopes de Almeida Quem não perdoa.
- Que vem a ser a peça?...
A peça é isto: Uma senhora viúva vive com sua filha e fica na contingência de ir vendendo os móveis.
Um dia, após a mãe ter negociado com o belchior Beirão a mobília e o piano, entra a filha um tanto alvoroçada, participando à mãe que tem alguma coisa a dizer-lhe.
Ilda diz a sua mãe que dentro em poucos minutos um moço virá pedi-la em casamento. Admiração de D. Elvira. Ilda conhecera-o em casa de umas alunas suas. E amara-o.
O Dr. Gustavo Ribas é recebido por D. Elvira, que lhe conta logo a vida e todas as dificuldades do seu lar, aconselhando-o a pensar bem, a refletir muito. Gustavo sai e Ilda que, naturalmente estava à espreita, entra e cai nos braços da mãe.
No segundo ato, em casa de Ilda, há doze anos casada com Gustavo, sua mãe consegue dela o juramento de que se ela chegar a amar outro homem, que não o seu marido, se sacrificará, mantendo pura a sua união com Gustavo. E conta que ela se havia também sacrificado. Vão chegando visitas – um casal, tios do marido de Ilda; um amigo da casa, o Sr. Fausto; um empregado de Gustavo... Sabe-se então que o marido de Ilda tem uma amante, a mulher do capitão Elias. As visitas saem, saem assim como D. Elvira, que vai fazer umas compras.
Ao retirar-se Ilda para o interior, Fausto, que ficara, conta a Gustavo que lhe disseram estar o Dr. Ramires, apaixonado por sua mulher. Gustavo pensa logo que sua mulher tem um amante.
Mal eles saem, Ilda despacha os criados em serviços demorados. É a hora da entrevista, a primeira e a única. Ramires chega. Declarações de amor. Ela já sabe que ele vai partir. Mandou chamá-lo para a despedida.
No momento de trocarem o beijo, chega o marido. Desvairado mata a mulher. Corre em procura de Ramires, que saíra, por uma outra porta, porque a casa tem duas entradas. Nisso a mãe de Ilda chega da cidade. Entra despreocupadamente. A filha já estava morta.
No dia do júri de Gustavo – é o terceiro ato – os tios, em casa dele, preparam a recepção. Certo, virá alguém. Chegam umas vizinhas, alguns amigos e por fim, Gustavo com o advogado e íntimos. Há música, canto, discursos, champagne. Gustavo sente-se aborrecido. Os visitantes saem. E ele fica só. Nesse momento, chega a mãe de Ilda. Atira-lhe ao rosto todas as dores que sente e, como mãe, é “quem não perdoa”: mata-o.
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A peça de D. Julia Lopes é um caso de observação da nossa sociedade burguesa. Há apenas, durante os três atos assassinatos demais... No primeiro ato, de exposição, não deixou de parecer estranho que uma menina, morando com a mamã, tenha um noivo e que esta só no dia do pedido oficial venha a ouvir pela primeira vez o nome do seu futuro genro. Não parece igualmente bem observado o rosário de coisas tristes com que a mamã abre todas as suas intimidades a um homem que vê pela primeira vez. No 2º ato há uma série de coincidências estranhas, sendo talvez a maior delas aquela entrevista, na própria casa da mulher casada que a marca, aquele rápido assassinato a faca, aquela morte rápida, sem um grito – pois que de faca não se morre assim tão calmamente, como ontem, tranquilamente morreu D. Lucilia Peres... Depois, o grito e tombo da mamã, antes de se certificar de que a filha está morta, parecem precipitados. Mas tudo isso talvez seja simples questão de rubrica.
A peça, que é bastante impressionante, ás vezes, tem de vez em quando essas pequeninas “descaídas” que fazem com que o espectador não a ache de todo natural.
D. Julia Lopes possuidora de um empolgante talento dramático, como o demonstrou cabalmente em todos os três finais de atos, não deixa de mostrar na sua peça uma certa inexperiência na “carpintaria” teatral, o que faz com que a peça “Quem não perdoa” falta de vez em quando uma determinada naturalidade. A entrada por exemplo daquele Fausto, no 2º ato, sem propósito nenhum, só para avisar o marido do que se anda a dizer da virtude da sua mulher, e a aconselhá-lo para que mande a mulher para uma fazenda, parece um enxerto bem pouco natural.
O 3º ato é um tanto episódico, para dar lugar à grande cena final, o 2º assassinato, em que a sogra apunhala o genro.
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- E o desempenho?...
Maria Falcão, Ferreira de Souza, Luiza de Oliveira, bem. D. Lucilia Peres não soube morrer. Ramos foi ás vezes de um ímpeto exagerado e que com certeza não está na rubrica da peça. João Barbosa, que não tinha papel, tinha em compensação uma gravata horrenda. A Sra. Corina Fróes, no 1º ato, deu o seu recado um tanto às pressas. O ator Octavio Rangel foi bem. Os outros, assim. É de louvar entretanto o esforço do Sr. Eduardo Victorino, competente e enérgico que em poucos dias pôde mostrar aos descrentes que nós podemos ter Teatro no dia em que houver um pouco de boa vontade.
A peça está muito decentemente montada. Os cenários de Jayme Silva, Lazary e Joaquim dos Santos mostram bem que neste capítulo nós nada temos a invejar o que vem de fora.
Nos finais de ato, a sala que estava repleta fez extraordinárias ovações à autora e aos artistas.


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