quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Carta da autora ao jornal



Jornal Paiz 03/10/1912
TEATRO MUNICIPAL
“Quem não Perdoa...”

Da ilustre escritora D. Julia Lopes de Almeida recebemos a seguinte carta:
“Sr. diretor do “Paiz” – Na crítica do seu jornal sobre a minha peça: “Quem não Perdoa...”, há uma afirmativa que me cumpre rebater, por não ser verdadeira e ser profundamente imoral que até me vexo de a ler. Diz a crítica que, no diálogo do 2º ato, Elvira diz à sua filha Ilda que: “se por acaso ama outro homem, deve fazê-lo de maneira que não o suspeite seu marido”. Ora, o conselho dado por essa mãe à sua filha é o de esmagar no fundo do peito o sentimento que porventura lhe inspire outro homem, de modo que ele jamais transpareça nem possa ser suspeitado pela pessoa que o inspirou. Para demonstrar à filha que isso é humanamente possível, esta mãe invoca a lembrança de uma paixão que teve na mocidade e de cuja existência nem a pessoa amada nem ninguém mais suspeitou nunca.
Como vê, o caso é oposto ao apresentado pelo crítico do “Paiz”.
Rogo-lhe ainda o obséquio de declarar que a minha peça nada tem que ver com fatos da atualidade, pois foi escrita há mais de dois anos, para a primeira série dos espetáculos nacionais do teatro Municipal.”
Com prazer fizemos a publicação da carta supra; entretanto o nosso engano, na parte a que se refere a talentosa escritora, é muito explicável, porque outros também compreenderam o trecho citado da mesma maneira que nós, sendo bem possível que tal se desse devido à má acústica do teatro, a algum “lapsus memoriae” da atriz que declamou o trecho, ou ainda a qualquer outra causa.



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Carta da autora ao jornal



Jornal Paiz 03/10/1912
TEATRO MUNICIPAL
“Quem não Perdoa...”

Da ilustre escritora D. Julia Lopes de Almeida recebemos a seguinte carta:
“Sr. diretor do “Paiz” – Na crítica do seu jornal sobre a minha peça: “Quem não Perdoa...”, há uma afirmativa que me cumpre rebater, por não ser verdadeira e ser profundamente imoral que até me vexo de a ler. Diz a crítica que, no diálogo do 2º ato, Elvira diz à sua filha Ilda que: “se por acaso ama outro homem, deve fazê-lo de maneira que não o suspeite seu marido”. Ora, o conselho dado por essa mãe à sua filha é o de esmagar no fundo do peito o sentimento que porventura lhe inspire outro homem, de modo que ele jamais transpareça nem possa ser suspeitado pela pessoa que o inspirou. Para demonstrar à filha que isso é humanamente possível, esta mãe invoca a lembrança de uma paixão que teve na mocidade e de cuja existência nem a pessoa amada nem ninguém mais suspeitou nunca.
Como vê, o caso é oposto ao apresentado pelo crítico do “Paiz”.
Rogo-lhe ainda o obséquio de declarar que a minha peça nada tem que ver com fatos da atualidade, pois foi escrita há mais de dois anos, para a primeira série dos espetáculos nacionais do teatro Municipal.”
Com prazer fizemos a publicação da carta supra; entretanto o nosso engano, na parte a que se refere a talentosa escritora, é muito explicável, porque outros também compreenderam o trecho citado da mesma maneira que nós, sendo bem possível que tal se desse devido à má acústica do teatro, a algum “lapsus memoriae” da atriz que declamou o trecho, ou ainda a qualquer outra causa.



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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Jornal Commercio 30/10/1912

Teatros e Música
O TEATRO NACIONAL

As ideias e os princípios pouco significam, se desacompanhados do valor dos homens que os representam e por eles se batem. Pouco importaria a ação do Governo Municipal em favor do ressurgimento do teatro nacional, se o cometimento fora confiado a homens destituídos da conveniente aptidão, privados da competência especial que o encargo exige, incapazes de energia moral para a resistência diuturna e intolerante às agressões da burocracia pretensiosa e demolidora, despojados da autoridade necessária à manutenção da disciplina, da ordem e da imprescindível harmonia que deve congregar num conjunto homogêneo os variados elementos de uma companhia numerosa de realizações cênicas.
Felizmente, porém, os destinos do teatro nacional, neste momento histórico, foram entregues a um homem investido de qualidades particulares que o recomendam e o habilitam ao desempenho da honrosa missão.
O Sr. Eduardo Victorino, que se acha a frente da companhia nacional que enceta amanhã, no Teatro Municipal, a série de representações que vão afirmar a existência do nosso teatro nacional, não é um desconhecido, nem um parvenu. É precisamente porque temos confiança na ação eficaz do homem que a Prefeitura colocou à frente de uma tentativa, que tem direito à animação de quantos amam esta terra, e também de acordo com as praxes desta folha, sempre que se dá um acontecimento que marca o início de uma obra útil, proveitosa e patriótica, vamos fazer o registro resumido de todos aqueles que para o ressurgimento do teatro nacional empenham o seu esforço.
Eduardo Victorino, que assinou o contrato com a Prefeitura do Distrito Federal, para a organização da companhia nacional que enceta amanhã os seus trabalhos no Teatro Municipal, nasceu em Lisboa. É um intelectual, cuja vida não tem obedecido rigorosamente à ordem e ao método; aos 15 anos terminara com brilho o curso dos liceus e matriculou-se na Politécnica, transferindo-se depois para o Instituto Industrial, onde fez o curso comercial. Atrairam-no poderosamente as letras e ele começou a escrever nos jornais.
Uma lufada mais áspera da vida, ou, talvez, o anseio de aventuras, se não o desejo do desconhecido, do ignorado, atiram com o rapaz ao Rio de Janeiro, aonde ele veio assistir ao advento da República. Trabalhou em alguns escritórios comerciais mas a tendência intelectual fe-lo de preferência jornalista e também dramaturgo. Assim como espalhou trabalhos pelas colunas da Gazeta da Tarde, Rio de Janeiro, Folha da Tarde, A Imprensa, etc., assim também traduziu dezenas de peças para o teatro e escreveu outras originais, como Os Amantes, O Guerrilheiro, Vasco da Gama, Ciúmes, etc.
A paixão pelo teatro ele a manifestara desde 1894, quando organizou uma companhia, com a qual percorreu os Estados de S. Paulo e de Minas. Aqui, no teatro “Variedades”, hoje “S. José”, e no “São Pedro”, dirigiu várias companhias de opereta e de drama. Em 1898 associou-se com o sogro, o ator Dias Braga, na empresa que ocupava o teatro Recreio Dramático, e levou a companhia a diferentes Estados do sul e do norte, sempre acompanhado pelo mais lisonjeiro êxito.
Mais tarde, com a mesma companhia, o Sr. Eduardo Victorino tomou a iniciativa de fazer teatro de arte, e deu-nos então aquela inolvidável série de excelentes espetáculos. Começou com o Quo Vadis?que ele extraiu do celebre romance de Sienkiewicz, e continuou com O mais feliz dos três de Labiche; A Honra, de Sudermann; A Bohemia, de Barriére e L. Thiboust, e O Mártir do Calvário, revelando-se principalmente um habilíssimo metteur en scène.
De quantas companhias trouxe de Portugal, sendo o ensaiador de algumas, di-lo o noticiário indígena desde 1904 até 1911.
Com diferentes companhias por ele contratadas e dirigidas, visitou o Rio Grande do Sul, S. Paulo e todo o norte da Republica, dando o moderno repertório de dramas e comédias.
Todos os artistas de Portugal, de nome feito, foram contratados. Em Lisboa foi empresário do Príncipe Real, com artistas como Brazão, Ferreira da Silva, Lucinda Simões, Maria Falcão, Christiano de Souza e outros.
Foi ele ainda, em Lisboa, quem lançou as conferências literárias e artísticas. Nas suas companhias montou vários originais inéditos, e fez sempre representar peças brasileiras de Arthur Azevedo, Pinto da Rocha, Coelho Netto, etc.
Na direção da Companhia Nacional o Sr. Eduardo Victorino é, certo, the right man...



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Jornal Commercio 30/10/1912

Teatros e Música
O TEATRO NACIONAL

As ideias e os princípios pouco significam, se desacompanhados do valor dos homens que os representam e por eles se batem. Pouco importaria a ação do Governo Municipal em favor do ressurgimento do teatro nacional, se o cometimento fora confiado a homens destituídos da conveniente aptidão, privados da competência especial que o encargo exige, incapazes de energia moral para a resistência diuturna e intolerante às agressões da burocracia pretensiosa e demolidora, despojados da autoridade necessária à manutenção da disciplina, da ordem e da imprescindível harmonia que deve congregar num conjunto homogêneo os variados elementos de uma companhia numerosa de realizações cênicas.
Felizmente, porém, os destinos do teatro nacional, neste momento histórico, foram entregues a um homem investido de qualidades particulares que o recomendam e o habilitam ao desempenho da honrosa missão.
O Sr. Eduardo Victorino, que se acha a frente da companhia nacional que enceta amanhã, no Teatro Municipal, a série de representações que vão afirmar a existência do nosso teatro nacional, não é um desconhecido, nem um parvenu. É precisamente porque temos confiança na ação eficaz do homem que a Prefeitura colocou à frente de uma tentativa, que tem direito à animação de quantos amam esta terra, e também de acordo com as praxes desta folha, sempre que se dá um acontecimento que marca o início de uma obra útil, proveitosa e patriótica, vamos fazer o registro resumido de todos aqueles que para o ressurgimento do teatro nacional empenham o seu esforço.
Eduardo Victorino, que assinou o contrato com a Prefeitura do Distrito Federal, para a organização da companhia nacional que enceta amanhã os seus trabalhos no Teatro Municipal, nasceu em Lisboa. É um intelectual, cuja vida não tem obedecido rigorosamente à ordem e ao método; aos 15 anos terminara com brilho o curso dos liceus e matriculou-se na Politécnica, transferindo-se depois para o Instituto Industrial, onde fez o curso comercial. Atrairam-no poderosamente as letras e ele começou a escrever nos jornais.
Uma lufada mais áspera da vida, ou, talvez, o anseio de aventuras, se não o desejo do desconhecido, do ignorado, atiram com o rapaz ao Rio de Janeiro, aonde ele veio assistir ao advento da República. Trabalhou em alguns escritórios comerciais mas a tendência intelectual fe-lo de preferência jornalista e também dramaturgo. Assim como espalhou trabalhos pelas colunas da Gazeta da Tarde, Rio de Janeiro, Folha da Tarde, A Imprensa, etc., assim também traduziu dezenas de peças para o teatro e escreveu outras originais, como Os Amantes, O Guerrilheiro, Vasco da Gama, Ciúmes, etc.
A paixão pelo teatro ele a manifestara desde 1894, quando organizou uma companhia, com a qual percorreu os Estados de S. Paulo e de Minas. Aqui, no teatro “Variedades”, hoje “S. José”, e no “São Pedro”, dirigiu várias companhias de opereta e de drama. Em 1898 associou-se com o sogro, o ator Dias Braga, na empresa que ocupava o teatro Recreio Dramático, e levou a companhia a diferentes Estados do sul e do norte, sempre acompanhado pelo mais lisonjeiro êxito.
Mais tarde, com a mesma companhia, o Sr. Eduardo Victorino tomou a iniciativa de fazer teatro de arte, e deu-nos então aquela inolvidável série de excelentes espetáculos. Começou com o Quo Vadis? que ele extraiu do celebre romance de Sienkiewicz, e continuou com O mais feliz dos três de Labiche; A Honra, de Sudermann; A Bohemia, de Barriére e L. Thiboust, e O Mártir do Calvário, revelando-se principalmente um habilíssimo metteur en scène.
De quantas companhias trouxe de Portugal, sendo o ensaiador de algumas, di-lo o noticiário indígena desde 1904 até 1911.
Com diferentes companhias por ele contratadas e dirigidas, visitou o Rio Grande do Sul, S. Paulo e todo o norte da Republica, dando o moderno repertório de dramas e comédias.
Todos os artistas de Portugal, de nome feito, foram contratados. Em Lisboa foi empresário do Príncipe Real, com artistas como Brazão, Ferreira da Silva, Lucinda Simões, Maria Falcão, Christiano de Souza e outros.
Foi ele ainda, em Lisboa, quem lançou as conferências literárias e artísticas. Nas suas companhias montou vários originais inéditos, e fez sempre representar peças brasileiras de Arthur Azevedo, Pinto da Rocha, Coelho Netto, etc.
Na direção da Companhia Nacional o Sr. Eduardo Victorino é, certo, the right man...



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domingo, 18 de novembro de 2012










GOSTARIA DE ESCLARECER QUE PROCUREI MANTER, TANTO QUANTO POSSÍVEL, O PORTUGUÊS DA ÉPOCA, NÃO ALTERANDO O SENTIDO DA FRASE DO ORIGINAL. (ERC)



AS NOSSAS ESCRITORAS (29/10/1912)
Foi com o nome ilustre de D. Julia Lopes de Almeida que o nosso Municipal iniciou a tentativa louvável da renegeração da cena nacional. Era uma garantia de sucesso, esse nome literário de tão alto destaque, de tão justa consagração no nosso meio intelectual.
Quem não Perdoa, é o título da nova peça de D. Julia, peça de intensidade dramática, e de fino estudo psicológico que serviu para confirmar o mérito incontestável da sua autora.
Peça em 3 atos original da Exma Sra D. Julia Lopes de Almeida 6 de Outubro de 1912

Quem não Perdoa
Elvira                                                                    Maria Falcão
Ilda                                                                       Lucia Péres
Angela                                                                   Luiza d’Oliveira
Ifigenia                                                                 Gabriela Montani
Sophia                                                                  Corina Flóes
Mimi                                                                     Fulvia Castello Branco
Zézé                                                                     Desdemona Barros
Judith                                                                  Judith Saldanha
Palmira                                                                 Bazilia Lazaro
Gustavo Ribas                                                       Antonio Ramos
Jacintho Vieira                                                     Ferreira de Souza
Manoel Ramires                                                     Alvaro Costa
Cardoso                                                               Carlos Abreu
Fausto                                                                 João Barbosa
Oscar                                                                  Antonio Sampaio
Beirão                                                                 Octavio Rangel
Duduca                                                                Castello Branco
Capitão Elias                                                        Affonso Mello
Generoso Pires                                                     Rangel
Antenor                                                               Mello
Ação Rio de Janeiro


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GOSTARIA DE ESCLARECER QUE PROCUREI MANTER, TANTO QUANTO POSSÍVEL, O PORTUGUÊS DA ÉPOCA, NÃO ALTERANDO O SENTIDO DA FRASE DO ORIGINAL. (ERC)



AS NOSSAS ESCRITORAS (29/10/1912)
Foi com o nome ilustre de D. Julia Lopes de Almeida que o nosso Municipal iniciou a tentativa louvável da renegeração da cena nacional. Era uma garantia de sucesso, esse nome literário de tão alto destaque, de tão justa consagração no nosso meio intelectual.
Quem não Perdoa, é o título da nova peça de D. Julia, peça de intensidade dramática, e de fino estudo psicológico que serviu para confirmar o mérito incontestável da sua autora.
Peça em 3 atos original da Exma Sra D. Julia Lopes de Almeida 6 de Outubro de 1912

Quem não Perdoa
Elvira                                                                    Maria Falcão
Ilda                                                                       Lucia Péres
Angela                                                                   Luiza d’Oliveira
Ifigenia                                                                 Gabriela Montani
Sophia                                                                  Corina Flóes
Mimi                                                                     Fulvia Castello Branco
Zézé                                                                     Desdemona Barros
Judith                                                                  Judith Saldanha
Palmira                                                                 Bazilia Lazaro
Gustavo Ribas                                                       Antonio Ramos
Jacintho Vieira                                                     Ferreira de Souza
Manoel Ramires                                                     Alvaro Costa
Cardoso                                                               Carlos Abreu
Fausto                                                                 João Barbosa
Oscar                                                                  Antonio Sampaio
Beirão                                                                 Octavio Rangel
Duduca                                                                Castello Branco
Capitão Elias                                                        Affonso Mello
Generoso Pires                                                     Rangel
Antenor                                                               Mello
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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Fotos da Fon-Fon!

Três das principais cenas do 1º, 2º e 3º atos do drama Quem não Perdoa de D. Julia Lopes d’Almeida, com que acaba de estrear a companhia nacional no Teatro Municipal. (Reportagem fotográfica especial de Fon-Fon!)




Jornal do Comércio 29/10/1912
TEATROS E MÚSICA

O TEATRO NACIONAL – Muitos anos decorreram já, depois que se iniciou no regime republicano o movimento em prol do Teatro Nacional. O Governo Provisório, que criara o Instituto Nacional de Música e remodelara o ensino das Belas Artes tinha a compreensão do valor social do teatro, mas deixou de cogitar da sua organização desde que desapareceram Aristides Lobo e Benjamin Constant, os estadistas mais completos daquele período de transformações políticas.
A indiferença do Governo perdurou no regime constitucional, servido por homens de cultura intelectual por vezes elevada, mas sempre alheia às elucubrações de arte e absolutamente ignorante da influência que o teatro deveria exercer e exercerá fatalmente sobre o movimento industrial e econômico, se não de todo o país, pelo menos dos centros onde tais manifestações de arte sejam favoneadas pelo auxílio oficial.
Era essa a situação de inércia, de mole apatia, quando, no seio do Governo municipal, o Sr. Julio do Carmo fez reviver a questão do teatro nacional e esse gesto só deixou de produzir resultados imediatamente, porque desviaram o movimento da diretriz que lhe fora traçada; vieram, porém, os impostos especiais onerar as empresas de espetáculos durante anos e anos, a pretexto da constituição de um patrimônio que permitisse a construção de um teatro modesto e a fundação do instituto normal de que desabrocharia o teatro nacional.
Passaram-se os anos, nada se fazia, nem tão pouco se soube jamais qual o patrimônio acumulado com a receita especial dos impostos de espetáculos, concertos e outras diversões.
Chegou o período da transformação material da cidade e o delírio das grandezas abrangeu também a ideia do teatro – não um templo modesto para culto da arte nacional e que deveria primar pela simplicidade, pelo conforto e pela despretensão, para que a alma popular ali se achasse à vontade e livre para as emoções; cuidou-se de preferência, com desígnios que nos não cumpre investigar, de um teatro que fosse uma maravilha arquitetônica, uma construção digna das Mil e uma Noites. E o Elefante Branco surgiu de um pau para a ostentação soberba dos mármores dos dourados, das decorações luxuosas, das luzes ofuscantes, dos veludos, das sedas, das tapeçarias, dos esplêndidos nus que parece terem nascido de palhetas de sátiros ou de faunos.
Em tal palácio encantado não poderia, certo, abrigar-se a humilde arte nacional, paupérrima, modestíssima, quase que envergonhada ante tantos esplendores, visões de sonhos orientais. O Elefante Branco foi então reservado para os Barnums audaciosos, para a mercancia das companhias de arribação que escondem andrajos sob os fulgores de uma ou duas estrelas.  Quanto à arte nacional... ainda é penosa a recordação da empresa Guilherme da Rosa!
Novo movimento se pronunciou ultimamente em prol do teatro nacional: o Governo municipal o acolheu sem entusiasmo, sem amor; em todo caso não o repeliu, honra lhe seja. E foi resolvido que se desse uma migalha qualquer a essa pedinte impertinente que tem a pretensão de representar um dos aspectos da nossa civilização.
Então, à última hora, quando já não havia companhias estrangeiras a atender e favorecer, a enferrujada entrosagem administrativa começou a funcionar para o expediente do ridículo auxílio que se concedia quase desdenhosamente para uma tentativa apressada, sem garantias para o elenco reunido às pressas por três meses apenas...
Além de tudo, alguns jornais falaram ainda da loucura municipal, que esbanjava setenta contos de réis em subvencionar uma companhia de teatro nacional, não se lembrando eles de que tal companhia deveria, dentro de poucos dias, levar à cena alguns originais brasileiros, sem estar previamente aparelhada com pessoal idôneo e com o material imprescindível, e que essa pequena subvenção era absolutamente insuficiente para oferecer, já não dizemos garantias permanentes, mas vantagens provisórias ao grupo de atores que se congregasse, assim como para adquirir o material necessário, fazendo-o preparar às carreiras...
Sim, é preciso desconhecer inteiramente o que seja o teatro, para ignorar que as subvenções às casas de espetáculo se dão em todo mundo civilizado, e que nunca foram consideradas sumtuarias ou improdutivas tais despesas, porque o teatro é uma fonte de vida para inúmeras indústrias e desenvolve e alimenta principalmente todas as indústrias de luxo. No organismo das sociedades cultas o teatro é indispensável ao equilíbrio vital e em toda parte se trabalha para que ele exerça a sua função normalmente; façamos aqui o mesmo e ele compensará oportunamente todos os sacrifícios.
Não declamamos, nem fazemos frases. Para documentar o que vimos dizendo, basta registrar apontamentos, que são extremamente instrutivos, dizendo como se auxilia o teatro no estrangeiro.
Onde se despendeu mais com o teatro em 1911, foi na cidade de Colonia; a Municipalidade contribuiu com a soma de 659.000 marcos (500 contos, aproximadamente), para a Ópera e o Schauspielhaus. Dusseldorf vem em seguida, com 519.000 marcos (390 contos); Manheim com 500.500 marcos (380 contos); Leipzig com 357.350 marcos (270 contos); Fribourg en Brisgau que tem apenas 83.000 habitantes, 318.000 marcos (240 contos); seguindo-se Strasburgo 289.645 marcos; Chemnitz 283.219 marcos; Francfort 272.500 marcos; Moguncia 207.000 marcos; Elberfeld 137.750 marcos; Essen 130.000 marcos. Em todas essas cidades não há uma subvenção fixa, mas a municipalidade cobre o déficite isso explica as frações das somas.
O soberano mais generoso conta-nos Le Guide Musicalé o Imperador da Austria que dota os teatros oficiais de Viena com somas enormes.
A Ópera recebe 600.000 coroas de subvenção fixa, e quando há déficit o Imperador supre a diferença; assim é que há dois anos a subvenção foi de um milhão.
O Burgr-Theater, que é a Comédia Francesa da Austria recebe 400.000 coroas por ano. Cumpre lembrar que o Imperador também dota, mas parcialmente dois teatros em Budapesth, o teatro Achèque de Praga do seu bolso particular.
O Imperador da Alemanha desembolsa 900.000 marcos para a Ópera Real de Berlim (670 contos); além disso, ele contribui com 400.000 marcos (300 contos) para o teatro de comédia. O Príncipe regente da Baviera dá 600.000 marcos (450 contos) aos dois teatros de Munich. A Ópera de Dresden recebe 400.000 marcos (450 contos) da lista civil do Rei de Saxe. O Grão Duque de Hesse despende 200.000 marcos com o teatro de Darmstad. O Rei da Dinamarca dá 400.000 coroas por ano para os teatros reais.
Na França as subvenções não são tão avultadas. O Governo francês dá 800.000 francos à Grande Ópera; 240.000 à Comedia Francesa; 300.000 à Ópera Cômica, 100.000 ao Odeon e ainda teatro e material grátis. A Municipalidade de Paris dá a gratuidade da sala da Gaité ao Teatro Lírico alugada anteriormente por 100.000 francos e concede um subsídio ao Trianon Lírico.
Para uma estação de seis meses a Municipalidade de Lyon concede ao diretor uma subvenção de 300.000 francos e paga três quartos da despesa com a aquisição de todo material novo. Em Marselha a subvenção é de 350.000 francos; em Bordeaux é de 285.000 francos.
Na Itália os teatros das grandes cidades têm subvenções dos municípios.
Na Russia os teatros imperiais de Petersburgo e de Moscow são custeados pelo Ministério da Corte, que provê também as despesas dos conservatórios de música, de declamação, de dança, além de custear as despesas da educação de todos os alunos até o momento em que eles se colocam nos teatros oficiais. Eles são pensionistas desses estabelecimentos onde fazem além de seus estudos artísticos, estudos clássicos pelo programa dos liceus. Depois de vinte anos de serviço nos teatros imperiais são aposentados com pensões vantajosas.
Na Bélgica a situação dos teatros não é tão vantajosa. O teatro de Monnaie em Bruxellas recebe pela estação de oito meses 100.000 francos da Corte e 150.000 da Municipalidade. Em Antuerpia a Municipalidade dá 60.000 francos ao Teatro Real (ópera); 60.000 francos ao Teatro Lírico flamengo e 30.000 ao Teatro dramático flamengo. Em Liège a subvenção do Teatro Real é apenas de 60.000 francos, mas a Municipalidade paga toda a orquestra. Em Grand o Teatro Real é custeado pela Municipalidade; o déficit da última estação foi de mais de 200.000 francos.
Como se vê, todos os bons teatros da Europa subsistem pelas subvenções, além das garantias que têm as empresas com a certeza desse auxílio que não falha. Em comparação vê-se quanto é mesquinha a subvenção que aqui agora foi dada e a título precário ao Sr. Eduardo Victorino para uma companhia dramática nacional.
Confiamos, porém, na atividade, na inteligência e na competência do Sr. Eduardo Victorino, que não poderá fazer milagres nem prodígios, inventando atores de um dia para outro, dando representações perfeitas com meia dúzia de ensaios e deslumbrando os espectadores com “mise-en-scéne” luxuosa e magnificente, mas surpreenderá a toda gente, já com a afinação artística de seu elenco que representará com decência, sabendo bem os seus papéis, já com uma encenação esmerada a que estamos pouco habituados, desde que as companhias estrangeiras estabeleceram, como máximo esplendor, para nós, os Botocudos, o cenário de papel dobrado, desbotado e as mais das vezes rasgado.
Cumpre que toda a sociedade intelectual do Rio de Janeiro venha animar com a sua presença a mais séria e inteligente tentativa, que entre nós se tem feito, para o ressurgimento do teatro nacional.
Na próxima terça-feira, 1 de outubro as portas do teatro Municipal abrir-se-ão para a primeira representação da peça em três atos “Quem não Perdoa...” de D. Julia Lopes de Almeida.

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Fotos da Fon-Fon!

Três das principais cenas do 1º, 2º e 3º atos do drama Quem não Perdoa de D. Julia Lopes d’Almeida, com que acaba de estrear a companhia nacional no Teatro Municipal. (Reportagem fotográfica especial de Fon-Fon!)




Jornal do Comércio 29/10/1912
TEATROS E MÚSICA

O TEATRO NACIONAL – Muitos anos decorreram já, depois que se iniciou no regime republicano o movimento em prol do Teatro Nacional. O Governo Provisório, que criara o Instituto Nacional de Música e remodelara o ensino das Belas Artes tinha a compreensão do valor social do teatro, mas deixou de cogitar da sua organização desde que desapareceram Aristides Lobo e Benjamin Constant, os estadistas mais completos daquele período de transformações políticas.
A indiferença do Governo perdurou no regime constitucional, servido por homens de cultura intelectual por vezes elevada, mas sempre alheia às elucubrações de arte e absolutamente ignorante da influência que o teatro deveria exercer e exercerá fatalmente sobre o movimento industrial e econômico, se não de todo o país, pelo menos dos centros onde tais manifestações de arte sejam favoneadas pelo auxílio oficial.
Era essa a situação de inércia, de mole apatia, quando, no seio do Governo municipal, o Sr. Julio do Carmo fez reviver a questão do teatro nacional e esse gesto só deixou de produzir resultados imediatamente, porque desviaram o movimento da diretriz que lhe fora traçada; vieram, porém, os impostos especiais onerar as empresas de espetáculos durante anos e anos, a pretexto da constituição de um patrimônio que permitisse a construção de um teatro modesto e a fundação do instituto normal de que desabrocharia o teatro nacional.
Passaram-se os anos, nada se fazia, nem tão pouco se soube jamais qual o patrimônio acumulado com a receita especial dos impostos de espetáculos, concertos e outras diversões.
Chegou o período da transformação material da cidade e o delírio das grandezas abrangeu também a ideia do teatro – não um templo modesto para culto da arte nacional e que deveria primar pela simplicidade, pelo conforto e pela despretensão, para que a alma popular ali se achasse à vontade e livre para as emoções; cuidou-se de preferência, com desígnios que nos não cumpre investigar, de um teatro que fosse uma maravilha arquitetônica, uma construção digna das Mil e uma Noites. E o Elefante Branco surgiu de um pau para a ostentação soberba dos mármores dos dourados, das decorações luxuosas, das luzes ofuscantes, dos veludos, das sedas, das tapeçarias, dos esplêndidos nus que parece terem nascido de palhetas de sátiros ou de faunos.
Em tal palácio encantado não poderia, certo, abrigar-se a humilde arte nacional, paupérrima, modestíssima, quase que envergonhada ante tantos esplendores, visões de sonhos orientais. O Elefante Branco foi então reservado para os Barnums audaciosos, para a mercancia das companhias de arribação que escondem andrajos sob os fulgores de uma ou duas estrelas.  Quanto à arte nacional... ainda é penosa a recordação da empresa Guilherme da Rosa!
Novo movimento se pronunciou ultimamente em prol do teatro nacional: o Governo municipal o acolheu sem entusiasmo, sem amor; em todo caso não o repeliu, honra lhe seja. E foi resolvido que se desse uma migalha qualquer a essa pedinte impertinente que tem a pretensão de representar um dos aspectos da nossa civilização.
Então, à última hora, quando já não havia companhias estrangeiras a atender e favorecer, a enferrujada entrosagem administrativa começou a funcionar para o expediente do ridículo auxílio que se concedia quase desdenhosamente para uma tentativa apressada, sem garantias para o elenco reunido às pressas por três meses apenas...
Além de tudo, alguns jornais falaram ainda da loucura municipal, que esbanjava setenta contos de réis em subvencionar uma companhia de teatro nacional, não se lembrando eles de que tal companhia deveria, dentro de poucos dias, levar à cena alguns originais brasileiros, sem estar previamente aparelhada com pessoal idôneo e com o material imprescindível, e que essa pequena subvenção era absolutamente insuficiente para oferecer, já não dizemos garantias permanentes, mas vantagens provisórias ao grupo de atores que se congregasse, assim como para adquirir o material necessário, fazendo-o preparar às carreiras...
Sim, é preciso desconhecer inteiramente o que seja o teatro, para ignorar que as subvenções às casas de espetáculo se dão em todo mundo civilizado, e que nunca foram consideradas sumtuarias ou improdutivas tais despesas, porque o teatro é uma fonte de vida para inúmeras indústrias e desenvolve e alimenta principalmente todas as indústrias de luxo. No organismo das sociedades cultas o teatro é indispensável ao equilíbrio vital e em toda parte se trabalha para que ele exerça a sua função normalmente; façamos aqui o mesmo e ele compensará oportunamente todos os sacrifícios.
Não declamamos, nem fazemos frases. Para documentar o que vimos dizendo, basta registrar apontamentos, que são extremamente instrutivos, dizendo como se auxilia o teatro no estrangeiro.
Onde se despendeu mais com o teatro em 1911, foi na cidade de Colonia; a Municipalidade contribuiu com a soma de 659.000 marcos (500 contos, aproximadamente), para a Ópera e o Schauspielhaus. Dusseldorf vem em seguida, com 519.000 marcos (390 contos); Manheim com 500.500 marcos (380 contos); Leipzig com 357.350 marcos (270 contos); Fribourg en Brisgau que tem apenas 83.000 habitantes, 318.000 marcos (240 contos); seguindo-se Strasburgo 289.645 marcos; Chemnitz 283.219 marcos; Francfort 272.500 marcos; Moguncia 207.000 marcos; Elberfeld 137.750 marcos; Essen 130.000 marcos. Em todas essas cidades não há uma subvenção fixa, mas a municipalidade cobre o déficit e isso explica as frações das somas.
O soberano mais generoso conta-nos Le Guide Musical é o Imperador da Austria que dota os teatros oficiais de Viena com somas enormes.
A Ópera recebe 600.000 coroas de subvenção fixa, e quando há déficit o Imperador supre a diferença; assim é que há dois anos a subvenção foi de um milhão.
O Burgr-Theater, que é a Comédia Francesa da Austria recebe 400.000 coroas por ano. Cumpre lembrar que o Imperador também dota, mas parcialmente dois teatros em Budapesth, o teatro Achèque de Praga do seu bolso particular.
O Imperador da Alemanha desembolsa 900.000 marcos para a Ópera Real de Berlim (670 contos); além disso, ele contribui com 400.000 marcos (300 contos) para o teatro de comédia. O Príncipe regente da Baviera dá 600.000 marcos (450 contos) aos dois teatros de Munich. A Ópera de Dresden recebe 400.000 marcos (450 contos) da lista civil do Rei de Saxe. O Grão Duque de Hesse despende 200.000 marcos com o teatro de Darmstad. O Rei da Dinamarca dá 400.000 coroas por ano para os teatros reais.
Na França as subvenções não são tão avultadas. O Governo francês dá 800.000 francos à Grande Ópera; 240.000 à Comedia Francesa; 300.000 à Ópera Cômica, 100.000 ao Odeon e ainda teatro e material grátis. A Municipalidade de Paris dá a gratuidade da sala da Gaité ao Teatro Lírico alugada anteriormente por 100.000 francos e concede um subsídio ao Trianon Lírico.
Para uma estação de seis meses a Municipalidade de Lyon concede ao diretor uma subvenção de 300.000 francos e paga três quartos da despesa com a aquisição de todo material novo. Em Marselha a subvenção é de 350.000 francos; em Bordeaux é de 285.000 francos.
Na Itália os teatros das grandes cidades têm subvenções dos municípios.
Na Russia os teatros imperiais de Petersburgo e de Moscow são custeados pelo Ministério da Corte, que provê também as despesas dos conservatórios de música, de declamação, de dança, além de custear as despesas da educação de todos os alunos até o momento em que eles se colocam nos teatros oficiais. Eles são pensionistas desses estabelecimentos onde fazem além de seus estudos artísticos, estudos clássicos pelo programa dos liceus. Depois de vinte anos de serviço nos teatros imperiais são aposentados com pensões vantajosas.
Na Bélgica a situação dos teatros não é tão vantajosa. O teatro de Monnaie em Bruxellas recebe pela estação de oito meses 100.000 francos da Corte e 150.000 da Municipalidade. Em Antuerpia a Municipalidade dá 60.000 francos ao Teatro Real (ópera); 60.000 francos ao Teatro Lírico flamengo e 30.000 ao Teatro dramático flamengo. Em Liège a subvenção do Teatro Real é apenas de 60.000 francos, mas a Municipalidade paga toda a orquestra. Em Grand o Teatro Real é custeado pela Municipalidade; o déficit da última estação foi de mais de 200.000 francos.
Como se vê, todos os bons teatros da Europa subsistem pelas subvenções, além das garantias que têm as empresas com a certeza desse auxílio que não falha. Em comparação vê-se quanto é mesquinha a subvenção que aqui agora foi dada e a título precário ao Sr. Eduardo Victorino para uma companhia dramática nacional.
Confiamos, porém, na atividade, na inteligência e na competência do Sr. Eduardo Victorino, que não poderá fazer milagres nem prodígios, inventando atores de um dia para outro, dando representações perfeitas com meia dúzia de ensaios e deslumbrando os espectadores com “mise-en-scéne” luxuosa e magnificente, mas surpreenderá a toda gente, já com a afinação artística de seu elenco que representará com decência, sabendo bem os seus papéis, já com uma encenação esmerada a que estamos pouco habituados, desde que as companhias estrangeiras estabeleceram, como máximo esplendor, para nós, os Botocudos, o cenário de papel dobrado, desbotado e as mais das vezes rasgado.
Cumpre que toda a sociedade intelectual do Rio de Janeiro venha animar com a sua presença a mais séria e inteligente tentativa, que entre nós se tem feito, para o ressurgimento do teatro nacional.
Na próxima terça-feira, 1 de outubro as portas do teatro Municipal abrir-se-ão para a primeira representação da peça em três atos “Quem não Perdoa...” de D. Julia Lopes de Almeida.

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