Teatros e Música
O TEATRO
NACIONAL
As ideias e
os princípios pouco significam, se desacompanhados do valor dos homens que os
representam e por eles se batem. Pouco importaria a ação do Governo Municipal
em favor do ressurgimento do teatro nacional, se o cometimento fora confiado a
homens destituídos da conveniente aptidão, privados da competência especial que
o encargo exige, incapazes de energia moral para a resistência diuturna e
intolerante às agressões da burocracia pretensiosa e demolidora, despojados da
autoridade necessária à manutenção da disciplina, da ordem e da imprescindível
harmonia que deve congregar num conjunto homogêneo os variados elementos de uma
companhia numerosa de realizações cênicas.
Felizmente,
porém, os destinos do teatro nacional, neste momento histórico, foram entregues
a um homem investido de qualidades particulares que o recomendam e o habilitam
ao desempenho da honrosa missão.
O Sr.
Eduardo Victorino, que se acha a frente da companhia nacional que enceta
amanhã, no Teatro Municipal, a série de representações que vão afirmar a
existência do nosso teatro nacional, não é um desconhecido, nem um parvenu. É precisamente porque temos
confiança na ação eficaz do homem que a Prefeitura colocou à frente de uma
tentativa, que tem direito à animação de quantos amam esta terra, e também de
acordo com as praxes desta folha, sempre que se dá um acontecimento que marca o
início de uma obra útil, proveitosa e patriótica, vamos fazer o registro
resumido de todos aqueles que para o ressurgimento do teatro nacional empenham
o seu esforço.
Eduardo Victorino, que
assinou o contrato com a Prefeitura do Distrito Federal, para a organização da
companhia nacional que enceta amanhã os seus trabalhos no Teatro Municipal,
nasceu em Lisboa. É um intelectual, cuja vida não tem obedecido rigorosamente à
ordem e ao método; aos 15 anos terminara com brilho o curso dos liceus e
matriculou-se na Politécnica, transferindo-se depois para o Instituto
Industrial, onde fez o curso comercial. Atrairam-no poderosamente as letras e
ele começou a escrever nos jornais.
Uma lufada
mais áspera da vida, ou, talvez, o anseio de aventuras, se não o desejo do
desconhecido, do ignorado, atiram com o rapaz ao Rio de Janeiro, aonde ele veio
assistir ao advento da República. Trabalhou em alguns escritórios comerciais
mas a tendência intelectual fe-lo de preferência jornalista e também
dramaturgo. Assim como espalhou trabalhos pelas colunas da Gazeta da Tarde, Rio de Janeiro, Folha da Tarde, A Imprensa, etc.,
assim também traduziu dezenas de peças para o teatro e escreveu outras
originais, como Os Amantes, O
Guerrilheiro, Vasco da Gama, Ciúmes, etc.
A paixão
pelo teatro ele a manifestara desde 1894, quando organizou uma companhia, com a
qual percorreu os Estados de S. Paulo e de Minas. Aqui, no teatro “Variedades”,
hoje “S. José”, e no “São Pedro”, dirigiu várias companhias de opereta e de
drama. Em 1898 associou-se com o sogro, o ator Dias Braga, na empresa que
ocupava o teatro Recreio Dramático, e levou a companhia a diferentes Estados do
sul e do norte, sempre acompanhado pelo mais lisonjeiro êxito.
Mais tarde,
com a mesma companhia, o Sr. Eduardo Victorino tomou a iniciativa de fazer
teatro de arte, e deu-nos então aquela inolvidável série de excelentes
espetáculos. Começou com o Quo Vadis?
que ele extraiu do celebre romance de Sienkiewicz, e continuou com O mais feliz dos três de Labiche; A Honra, de Sudermann; A Bohemia, de Barriére e L. Thiboust, e O Mártir do Calvário, revelando-se
principalmente um habilíssimo metteur en
scène.
De quantas
companhias trouxe de Portugal, sendo o ensaiador de algumas, di-lo o noticiário
indígena desde 1904 até 1911.
Com diferentes
companhias por ele contratadas e dirigidas, visitou o Rio Grande do Sul, S.
Paulo e todo o norte da Republica, dando o moderno repertório de dramas e
comédias.
Todos os
artistas de Portugal, de nome feito, foram contratados. Em Lisboa foi
empresário do Príncipe Real, com artistas como Brazão, Ferreira da Silva,
Lucinda Simões, Maria Falcão, Christiano de Souza e outros.
Foi ele
ainda, em Lisboa, quem lançou as
conferências literárias e artísticas. Nas suas companhias montou vários originais inéditos, e fez sempre representar peças
brasileiras de Arthur Azevedo, Pinto da Rocha, Coelho Netto, etc.
Na direção
da Companhia Nacional o Sr. Eduardo Victorino é, certo, the right man...
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