IMPRENSA – 3/10/1912
A VIDA ENTRE BASTIDORES – UMA PALESTRA NO MUNICIPAL
Eduardo Victorino, o empresário subvencionado do
Municipal, é um antigo jornalista, que em tempo foi dos mais laboriosos e
inteligentes auxiliares da imprensa carioca.
Encontramo-lo ontem em seu gabinete de diretor, no
Municipal.
Em conversa, pedimos notícia sobre a vida entre os
bastidores daquele teatro.
- Vai tudo maravilhosamente, meu caro!
Pergunta-me, como quem as espera sempre neste meio,
pelas intriguinhas?...
Mas as intriguinhas lá se foram!...
Eu organizei cá dentro, com a boa vontade dos
antigos e dos novos, (que valha a verdade, são de uma boa vontade digna de
nota) uma verdadeira profilaxia contra a intriga.
Nem ela existe cá, nem entrará, posso garanti-lo.
Estes dois meses que nos esperam serão de absoluta
paz e concórdia.
- E corre tudo bem, no melhor dos mundos?
- Ah! mas é querer muito!
Há, sem dúvida, dificuldades. Elas existem sempre e
em tudo. Vão-se, entretanto, removendo em tudo quanto se possa...
- Todos estamos numa excelente combinação que, com
franqueza, é animadora.
Demais, todos já compreenderam que essa união é a
base, o “sine qua non” da vitória...
- E o sucesso? Que nos diz das suas esperanças?
- O público já vai tomando verdadeiro interesse
pela cena e a prova é que para ontem, para a primeira, não teve o teatro um
único lugar vazio.
- Parece que não. O público já vai tomando
verdadeiro interesse pela cena e a prova é que para ontem, para a primeira, não
teve o teatro um único lugar vazio.
...Eduardo Victorino era solicitado pelo
encarregado do arranjo da sala de imprensa, que lhe mereceu especial atenção.
Agradecemos-lhe os minutos que lhe roubamos e saímos
do gabinete.
No espaçoso palco ia se encaixilhando o cenário do
1º ato do “Quem não perdoa”, de D. Julia Lopes.
J.M.
REPÚBLICA – 3/10/1912
A estreia da
companhia nacional organizada pelo sr. Eduardo Victorino
Não era de se esperar outra coisa da competência do
sr. Eduardo Victorino, o esforçado organizador da companhia que ontem estreou
no Teatro Municipal.
A grande e bela casa de espetáculos esteve repleta
do que há de mais seleto e distinto da nossa sociedade, que correu pressurosa
para conhecer o novo trabalho da talentosa escritora d. Julia Lopes de Almeida,
que, com tão belos auspícios, estreou no teatrinho da Exposição da Praia Vermelha,
com escritora teatral.
O dificílimo gênero de literatura que tem dado
muitas glórias aos que trabalham para ele e extraordinárias decepções para aqueles
que não têm embocadura, foi ontem
posto em evidência pela aplaudida romancista em uma peça vazada nos moldes dos
que discutem teses da vida real.
Quem não
perdoa é um drama em 3 atos, cuja urdidura, complicada não pode ser
apreciada em uma primeira audição.
Há cenas felizes, conduzidas com muita verdade, que
tiveram regular interpretação.
Os personagens que se movem na peça de d. Julia
Lopes de Almeida não são ficções, encontramo-los em nosso meio, falam conosco,
convivem em nossa sociedade, são, enfim, tipos reais e bem copiados.
O entrecho da peça prendeu a atenção da plateia,
que, entusiasmada, saudou a autora com uma prolongada salva de palmas.
Eduardo Victorino, por seu lado, caprichou na
montagem da peça e a ensaiou com carinho e os artistas que tomaram parte no Quem não perdoa, secundando-a, estiveram
impecáveis.
Os principais papéis foram entregues a Maria
Falcão, Lucilia Peres, Gabriela Montani, Corina Fróes, A. Ramos, Ferreira de
Souza, que estiveram na altura da peça e da reputação artística que gosam.
O espetáculo terminou deixando ao público a melhor
das impressões.
A tentativa levada a efeito por E. Victorino é hoje
uma realidade e o Teatro Municipal teve ontem o seu mais auspicioso início.
Hoje repete-se a mesma peça.
E.X.
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