sábado, 15 de junho de 2013

A VIDA ENTRE BASTIDORES

IMPRENSA – 3/10/1912
A VIDA ENTRE BASTIDORES – UMA PALESTRA NO MUNICIPAL
Eduardo Victorino, o empresário subvencionado do Municipal, é um antigo jornalista, que em tempo foi dos mais laboriosos e inteligentes auxiliares da imprensa carioca.
Encontramo-lo ontem em seu gabinete de diretor, no Municipal.
Em conversa, pedimos notícia sobre a vida entre os bastidores daquele teatro.
- Vai tudo maravilhosamente, meu caro!
Pergunta-me, como quem as espera sempre neste meio, pelas intriguinhas?...
Mas as intriguinhas lá se foram!...
Eu organizei cá dentro, com a boa vontade dos antigos e dos novos, (que valha a verdade, são de uma boa vontade digna de nota) uma verdadeira profilaxia contra a intriga.
Nem ela existe cá, nem entrará, posso garanti-lo.
Estes dois meses que nos esperam serão de absoluta paz e concórdia.
- E corre tudo bem, no melhor dos mundos?
- Ah! mas é querer muito!
Há, sem dúvida, dificuldades. Elas existem sempre e em tudo. Vão-se, entretanto, removendo em tudo quanto se possa...
- Todos estamos numa excelente combinação que, com franqueza, é animadora.
Demais, todos já compreenderam que essa união é a base, o “sine qua non” da vitória...
- E o sucesso? Que nos diz das suas esperanças?
- O público já vai tomando verdadeiro interesse pela cena e a prova é que para ontem, para a primeira, não teve o teatro um único lugar vazio.
- Parece que não. O público já vai tomando verdadeiro interesse pela cena e a prova é que para ontem, para a primeira, não teve o teatro um único lugar vazio.
...Eduardo Victorino era solicitado pelo encarregado do arranjo da sala de imprensa, que lhe mereceu especial atenção.
Agradecemos-lhe os minutos que lhe roubamos e saímos do gabinete.
No espaçoso palco ia se encaixilhando o cenário do 1º ato do “Quem não perdoa”, de D. Julia Lopes.
J.M.


REPÚBLICA – 3/10/1912
A estreia da companhia nacional organizada pelo sr. Eduardo Victorino
Não era de se esperar outra coisa da competência do sr. Eduardo Victorino, o esforçado organizador da companhia que ontem estreou no Teatro Municipal.
A grande e bela casa de espetáculos esteve repleta do que há de mais seleto e distinto da nossa sociedade, que correu pressurosa para conhecer o novo trabalho da talentosa escritora d. Julia Lopes de Almeida, que, com tão belos auspícios, estreou no teatrinho da Exposição da Praia Vermelha, com escritora teatral.
O dificílimo gênero de literatura que tem dado muitas glórias aos que trabalham para ele e extraordinárias decepções para aqueles que não têm embocadura, foi ontem posto em evidência pela aplaudida romancista em uma peça vazada nos moldes dos que discutem teses da vida real.
Quem não perdoa é um drama em 3 atos, cuja urdidura, complicada não pode ser apreciada em uma primeira audição.
Há cenas felizes, conduzidas com muita verdade, que tiveram regular interpretação.
Os personagens que se movem na peça de d. Julia Lopes de Almeida não são ficções, encontramo-los em nosso meio, falam conosco, convivem em nossa sociedade, são, enfim, tipos reais e bem copiados.
O entrecho da peça prendeu a atenção da plateia, que, entusiasmada, saudou a autora com uma prolongada salva de palmas.
Eduardo Victorino, por seu lado, caprichou na montagem da peça e a ensaiou com carinho e os artistas que tomaram parte no Quem não perdoa, secundando-a, estiveram impecáveis.
Os principais papéis foram entregues a Maria Falcão, Lucilia Peres, Gabriela Montani, Corina Fróes, A. Ramos, Ferreira de Souza, que estiveram na altura da peça e da reputação artística que gosam.
O espetáculo terminou deixando ao público a melhor das impressões.
A tentativa levada a efeito por E. Victorino é hoje uma realidade e o Teatro Municipal teve ontem o seu mais auspicioso início.
Hoje repete-se a mesma peça.
E.X.


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