segunda-feira, 12 de maio de 2014

Victorino e a Crítica

NOTICIA – 7/10/1912

Meu caro Eduardo Victorino:
Disseram-me que V. estava um tanto “zangado” com a crítica indígena...
Disseram-me... mas ninguém acredita em tal. A começar por mim, que tão bem conheço o seu espírito e a sua linha moral. Um homem do seu apuro não se zanga nunca: sorri superiormente, acha às vezes idiota o que os outros dizem, mas não se zanga.
Por isso eu fiquei incrédulo, quando me disseram que V. estava “zangado” com a crítica indígena.
Zangado, por quê? A Exma. Sra. D. Crítica, entrando para a sala do Municipal, de ouvido atento, e lápis apurado, prestou uma grata homenagem à nobre tentativa de que V. se acha à frente. Discutiu a peça com interesse, discutiu sua ação enérgica, analisar, descer a detalhes - provas apenas que essa rabugenta senhora a que nós desdenhamente chamamos “A Crítica” se interessa deveras por essa estreia que representa para V. a mais resplendente vitória.
Houve quem chamasse esse interesse e a essa análise “intolerância e má vontade”. Claro que V. não queria que a imprensa Rio se limitasse a duas linhas de noticiário, para o verdadeiro acontecimento que foi o espetáculo de 1º do corrente.
As duas linhas do noticiário a imprensa as reserva para as revistinhas de cinematógrafos. Tratando-se, porém, de uma nobre tentativa de arte, em que estão empenhados o seu nome, a sua atividade, a sua competência e a sua energia; tratando-se dessa importante questão do nosso teatro, a cuja frente aparece o nome brilhante e querido de Coelho Netto; tratando-se de estreia com a peça de uma das nossas escritoras de mais merecido renome – V. vê meu caro Victorino, que os rapazes de jornal não podiam ter para esse acontecimento os mesmos adjetivos banais e piedosos que escrevem para a representação das revistinhas – sem as ir ver.
Falta de consideração para com V., para com o nome brilhante que o pôs na frente dessa empreitada, e para com a autora da peça, seria se os jornais se tivessem limitado as tais duas linhas banais e elogiosas, com que recebem sempre as revistinhas dos cinematógrafos. Vendo que se tratava de um caso sério, de uma tentativa honesta, os jornais se interessaram por isso, e discutiram largamente o êxito da tentativa e o valor da peça.
Hostilidade, isso?... de maneira nenhuma. Certo, é bem possível que haja em muitas das apreciações, uma ou outra palavra que tenha “forçado a linha” – mas muito mais perigoso do que isso é a chamada crítica da crítica, que leva quase sempre a exageros lamentáveis.
Todo esse “barulho” que se fez em torno da sua nobre tentativa, parece-me, outra coisa não é senão o grande interesse manifestado pelo ressurgimento do Teatro no Brasil, e também uma justa homenagem prestada a V. e à autora da peça.
Tratando-se de um nome respeitado e querido como o que assina o trabalho com que V. estreou a sua companhia; e mais ainda: tratando-se de um trabalho julgado e premiado pela Academia de Letras – era de esperar, era certo esse apuro de análise rigorosa com que meia dúzia de rapazes assistiram à representação.
Foi pena – como tão superiormente disse um dos nossos cronistas mais elegantes – que nem todos adotassem, “por exemplo o critério da modelar crítica do Jornal do Comércio.”
Ai! caro Victorino! foi grande pena!... Mas, mesmo aí, creio que V. não ficasse zangado com a crítica indígena – só porque ela tivesse o modelar critério do crítico do Jornal. Nem isto de resto teria sido agradável a V. com essa unanimidade e elevação de juízo, V.: não poderia ter gosado a longa série de coisas “disparatadas e alegres” que foram escritas sobre a representação.
E nem disto, a culpa é sua: toda a culpa é da crítica indígena que quis escrever sobre a peça, sem ter o cuidado de perguntar como pensava o erudito crítico do Jornal.
Se nem todos podem ter – é evidente – o critério modelar aludido, é claro que V. não tem culpa nenhuma em que o resto da crítica andasse dando por paus e por pedras e escrevendo tolices... V. nenhuma culpa tem disto – nem tem razão para ficar zangado com “esses meninos que o divertem.”
Para V. seria mesmo sensaborão que todos os jornais tivessem dito a mesma coisa que disse o Jornal. Além de sensaborão, essa “unanimidade” de opinião pareceria um sermão encomendado ou um “juízo de favor” – coisa que tanto V. como a autora da peça repeliram enojados.
Por isso, eu não acredito que V., convencido do seu nobre esforço, e sabendo ver as coisas, tenha ficado zangado com a crítica.
Zangado teria ficado V. se os rapazes tivessem escrito as duas linhas elogiosas com que atiram a pá de cal sobre todas as borracheiras dos teatros por sessões; ou se todos tivessem copiado servilmente, em homenagem a V., a modelar crítica a que aludiu o elegante cronista.
As duas linhas elogiosas representariam um desinteresse condenável; a cópia do modelo, além de atestado de “auto-incompetência”, seria uma desatenção ou uma preguiça... V. mesmo não quereria tal, não quereria assim – e como a crítica indígena tenha tomado um grande interesse e tenha querido analisar minuciosamente o seu esforço e o trabalho que V. fez representar – vem agora os seus desafetos dizer que V. está zangado...
Eu não creio. Homem prático, experiente, inteligente, trabalhador, V. teria ficado zangado... se os jornais não discutissem a sua iniciativa e o seu esforço. Isto sim. Se toda a imprensa do Rio tivesse tido apenas três adjetivos lisonjeiros para o trabalho do Sr. Victorino – o Sr. Victorino ficaria zangado. Mas a imprensa compreendeu logo que se tratava de coisa séria: uma nobre tentativa de arte, o ressurgimento do nosso Teatro, a prova que podia decidir de vida ou de morte, entre nós, da “mais bela manifestação de inteligência humana” – e a imprensa lá foi pressurosa para o teatro, a querer ver, a querer aplaudir.
Ainda mais: tratava-se na estreia de um dos nomes mais respeitáveis e queridos na literatura contemporânea, o mesmo que assinara, no tempo da Exposição, aquela joia dramática que é A Herança e por isso a crítica indígena lá esteve au grand complet, a gozar uma noite de arte, e a querer prestar, tanto à competência do Sr. Victorino como ao talento da autora, as justas homenagens a que ambos têm direito.
Se depois disto, não houve uma absoluta justiça nas apreciações; se não houve uma unanimidade de louvores, e que ninguém é perfeito neste mundo, a crítica inclusive... A perfeição que pode às vezes ser um encanto, é quase sempre monótona. Agora mesmo, se todos os jornais tivessem sido unânimes em dizer que a estreia foi um “ruidoso sucesso”, essa unanimidade quase prejudicaria o resultado do seu nobre esforço, meu caro Victorino. Para que o bem tenha maior brilho, é preciso que o mal exista: e desta mesma vez foi escrito que “as restrições feitas por alguns jornais, nada mais foram do que o fundo escuro onde melhor podia brilhar o trabalho discutido.” E esta, creio, é a grande verdade.
A unanimidade de juízos prejudicaria o êxito do seu trabalho. E por isso V., embora não tivesse gostado de certos juízos (“ juízos ligeiros”, como dizia o nosso grande Eça) nem por isso teria ficado zangado com essa “intolerância”, como querem outros.
Sim. Se todos os jornais tivessem apenas dito: - “Representou-se ontem no Municipal a peça tal que agradou” – é certo que V. ficaria zangadíssimo e com toda a razão. Se mais preguiçosamente, esses rapazes que fazem a crítica indígena tivessem adiado a sua opinião para 24 horas depois, esperando a “crítica modelar” para copiá-la tal qual – V. teria agora o direito de os chamar de preguiçosos e incompetentes.
Mas não vá V. pensar, meu caro Victorino que eu queira aqui fazer a crítica das críticas... Oh! não! Deus me livre de tal. Faltam-me para isso a competência e o resto. Apenas como se tenha murmurado nos corredores do teatro que V. “tinha ficado zangado” com a crítica indígena pelos seus “juízos ligeiros”, eu comecei a pensar, a ver sua V. tinha razão.
Verifiquei desde logo que V. não está zangado. Um homem do seu espírito não se zanga nunca. Mas me lembrei também de que V. me poderia objetar:
- “Tu estás aí a falar, ó pequeno, porque o trabalho criticado não é teu.”
Sim meu caro, quando a gente é parte na questão, o modo de ver as coisas é outro. Cala e perdoa, quando há de que perdoar.
E aqui fico certo de que V. me perdoa estas linhas, - linhas que eu só escrevi porque me disseram que V. está “muito zangadinho”, quando eu tenho a certeza de que V. não está zangado nem nada. Com a ingênua intenção de querer restabelecer a verdade – quanto a V. – foi que me tornei tão ingenuamente prolixo e tão alegremente conselheiral... Perdoe V.. E acredite-me sincero admirador do seu esforço.
J. BRITO

A NOTA
A companhia organizada por Eduardo Victorino, para trabalhar no Municipal, ultima seus ensaios. Da competência de Eduardo Victorino não duvidamos, mesmo porque, desde há muito que lhe reconhecemos a autoridade.
Mas, há uma dúvida que nos assalta. Que língua falarão os atores que fazem parte da companhia Municipal? À primeira vista, essa pergunta parecerá um absurdo, mas nós a explicaremos.
A companhia tem artistas brasileiros e portugueses e cada qual dá às suas palavras o acento lusitano ou abrasileirado conforme o gosto de cada um. Ora, como a pronúncia é arbitrária, teremos para os nossos sinceros ouvidos a irritante assonância luso-brasileira. Como teria evitado este terrível vício Eduardo Victorino?


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NOTICIA – 7/10/1912

Meu caro Eduardo Victorino:
Disseram-me que V. estava um tanto “zangado” com a crítica indígena...
Disseram-me... mas ninguém acredita em tal. A começar por mim, que tão bem conheço o seu espírito e a sua linha moral. Um homem do seu apuro não se zanga nunca: sorri superiormente, acha às vezes idiota o que os outros dizem, mas não se zanga.
Por isso eu fiquei incrédulo, quando me disseram que V. estava “zangado” com a crítica indígena.
Zangado, por quê? A Exma. Sra. D. Crítica, entrando para a sala do Municipal, de ouvido atento, e lápis apurado, prestou uma grata homenagem à nobre tentativa de que V. se acha à frente. Discutiu a peça com interesse, discutiu sua ação enérgica, analisar, descer a detalhes - provas apenas que essa rabugenta senhora a que nós desdenhamente chamamos “A Crítica” se interessa deveras por essa estreia que representa para V. a mais resplendente vitória.
Houve quem chamasse esse interesse e a essa análise “intolerância e má vontade”. Claro que V. não queria que a imprensa Rio se limitasse a duas linhas de noticiário, para o verdadeiro acontecimento que foi o espetáculo de 1º do corrente.
As duas linhas do noticiário a imprensa as reserva para as revistinhas de cinematógrafos. Tratando-se, porém, de uma nobre tentativa de arte, em que estão empenhados o seu nome, a sua atividade, a sua competência e a sua energia; tratando-se dessa importante questão do nosso teatro, a cuja frente aparece o nome brilhante e querido de Coelho Netto; tratando-se de estreia com a peça de uma das nossas escritoras de mais merecido renome – V. vê meu caro Victorino, que os rapazes de jornal não podiam ter para esse acontecimento os mesmos adjetivos banais e piedosos que escrevem para a representação das revistinhas – sem as ir ver.
Falta de consideração para com V., para com o nome brilhante que o pôs na frente dessa empreitada, e para com a autora da peça, seria se os jornais se tivessem limitado as tais duas linhas banais e elogiosas, com que recebem sempre as revistinhas dos cinematógrafos. Vendo que se tratava de um caso sério, de uma tentativa honesta, os jornais se interessaram por isso, e discutiram largamente o êxito da tentativa e o valor da peça.
Hostilidade, isso?... de maneira nenhuma. Certo, é bem possível que haja em muitas das apreciações, uma ou outra palavra que tenha “forçado a linha” – mas muito mais perigoso do que isso é a chamada crítica da crítica, que leva quase sempre a exageros lamentáveis.
Todo esse “barulho” que se fez em torno da sua nobre tentativa, parece-me, outra coisa não é senão o grande interesse manifestado pelo ressurgimento do Teatro no Brasil, e também uma justa homenagem prestada a V. e à autora da peça.
Tratando-se de um nome respeitado e querido como o que assina o trabalho com que V. estreou a sua companhia; e mais ainda: tratando-se de um trabalho julgado e premiado pela Academia de Letras – era de esperar, era certo esse apuro de análise rigorosa com que meia dúzia de rapazes assistiram à representação.
Foi pena – como tão superiormente disse um dos nossos cronistas mais elegantes – que nem todos adotassem, “por exemplo o critério da modelar crítica do Jornal do Comércio.”
Ai! caro Victorino! foi grande pena!... Mas, mesmo aí, creio que V. não ficasse zangado com a crítica indígena – só porque ela tivesse o modelar critério do crítico do Jornal. Nem isto de resto teria sido agradável a V. com essa unanimidade e elevação de juízo, V.: não poderia ter gosado a longa série de coisas “disparatadas e alegres” que foram escritas sobre a representação.
E nem disto, a culpa é sua: toda a culpa é da crítica indígena que quis escrever sobre a peça, sem ter o cuidado de perguntar como pensava o erudito crítico do Jornal.
Se nem todos podem ter – é evidente – o critério modelar aludido, é claro que V. não tem culpa nenhuma em que o resto da crítica andasse dando por paus e por pedras e escrevendo tolices... V. nenhuma culpa tem disto – nem tem razão para ficar zangado com “esses meninos que o divertem.”
Para V. seria mesmo sensaborão que todos os jornais tivessem dito a mesma coisa que disse o Jornal. Além de sensaborão, essa “unanimidade” de opinião pareceria um sermão encomendado ou um “juízo de favor” – coisa que tanto V. como a autora da peça repeliram enojados.
Por isso, eu não acredito que V., convencido do seu nobre esforço, e sabendo ver as coisas, tenha ficado zangado com a crítica.
Zangado teria ficado V. se os rapazes tivessem escrito as duas linhas elogiosas com que atiram a pá de cal sobre todas as borracheiras dos teatros por sessões; ou se todos tivessem copiado servilmente, em homenagem a V., a modelar crítica a que aludiu o elegante cronista.
As duas linhas elogiosas representariam um desinteresse condenável; a cópia do modelo, além de atestado de “auto-incompetência”, seria uma desatenção ou uma preguiça... V. mesmo não quereria tal, não quereria assim – e como a crítica indígena tenha tomado um grande interesse e tenha querido analisar minuciosamente o seu esforço e o trabalho que V. fez representar – vem agora os seus desafetos dizer que V. está zangado...
Eu não creio. Homem prático, experiente, inteligente, trabalhador, V. teria ficado zangado... se os jornais não discutissem a sua iniciativa e o seu esforço. Isto sim. Se toda a imprensa do Rio tivesse tido apenas três adjetivos lisonjeiros para o trabalho do Sr. Victorino – o Sr. Victorino ficaria zangado. Mas a imprensa compreendeu logo que se tratava de coisa séria: uma nobre tentativa de arte, o ressurgimento do nosso Teatro, a prova que podia decidir de vida ou de morte, entre nós, da “mais bela manifestação de inteligência humana” – e a imprensa lá foi pressurosa para o teatro, a querer ver, a querer aplaudir.
Ainda mais: tratava-se na estreia de um dos nomes mais respeitáveis e queridos na literatura contemporânea, o mesmo que assinara, no tempo da Exposição, aquela joia dramática que é A Herança e por isso a crítica indígena lá esteve au grand complet, a gozar uma noite de arte, e a querer prestar, tanto à competência do Sr. Victorino como ao talento da autora, as justas homenagens a que ambos têm direito.
Se depois disto, não houve uma absoluta justiça nas apreciações; se não houve uma unanimidade de louvores, e que ninguém é perfeito neste mundo, a crítica inclusive... A perfeição que pode às vezes ser um encanto, é quase sempre monótona. Agora mesmo, se todos os jornais tivessem sido unânimes em dizer que a estreia foi um “ruidoso sucesso”, essa unanimidade quase prejudicaria o resultado do seu nobre esforço, meu caro Victorino. Para que o bem tenha maior brilho, é preciso que o mal exista: e desta mesma vez foi escrito que “as restrições feitas por alguns jornais, nada mais foram do que o fundo escuro onde melhor podia brilhar o trabalho discutido.” E esta, creio, é a grande verdade.
A unanimidade de juízos prejudicaria o êxito do seu trabalho. E por isso V., embora não tivesse gostado de certos juízos (“ juízos ligeiros”, como dizia o nosso grande Eça) nem por isso teria ficado zangado com essa “intolerância”, como querem outros.
Sim. Se todos os jornais tivessem apenas dito: - “Representou-se ontem no Municipal a peça tal que agradou” – é certo que V. ficaria zangadíssimo e com toda a razão. Se mais preguiçosamente, esses rapazes que fazem a crítica indígena tivessem adiado a sua opinião para 24 horas depois, esperando a “crítica modelar” para copiá-la tal qual – V. teria agora o direito de os chamar de preguiçosos e incompetentes.
Mas não vá V. pensar, meu caro Victorino que eu queira aqui fazer a crítica das críticas... Oh! não! Deus me livre de tal. Faltam-me para isso a competência e o resto. Apenas como se tenha murmurado nos corredores do teatro que V. “tinha ficado zangado” com a crítica indígena pelos seus “juízos ligeiros”, eu comecei a pensar, a ver sua V. tinha razão.
Verifiquei desde logo que V. não está zangado. Um homem do seu espírito não se zanga nunca. Mas me lembrei também de que V. me poderia objetar:
- “Tu estás aí a falar, ó pequeno, porque o trabalho criticado não é teu.”
Sim meu caro, quando a gente é parte na questão, o modo de ver as coisas é outro. Cala e perdoa, quando há de que perdoar.
E aqui fico certo de que V. me perdoa estas linhas, - linhas que eu só escrevi porque me disseram que V. está “muito zangadinho”, quando eu tenho a certeza de que V. não está zangado nem nada. Com a ingênua intenção de querer restabelecer a verdade – quanto a V. – foi que me tornei tão ingenuamente prolixo e tão alegremente conselheiral... Perdoe V.. E acredite-me sincero admirador do seu esforço.
J. BRITO

A NOTA
A companhia organizada por Eduardo Victorino, para trabalhar no Municipal, ultima seus ensaios. Da competência de Eduardo Victorino não duvidamos, mesmo porque, desde há muito que lhe reconhecemos a autoridade.
Mas, há uma dúvida que nos assalta. Que língua falarão os atores que fazem parte da companhia Municipal? À primeira vista, essa pergunta parecerá um absurdo, mas nós a explicaremos.
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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Dona Júlia

Dona Júlia Lopes de Almeida



Gostaríamos de recomendar a tese de Cátia Toledo Mendonça (Doutoranda em Estudos Literários pela UFPR) 

JÚLIA LOPES DE ALMEIDA: A BUSCA DA LIBERAÇÃO FEMININA PELA PALAVRA

www.letras.ufpr.br/documentos/pdf_revistas/mendonca.pdf


Dona Júlia

Dona Júlia Lopes de Almeida



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terça-feira, 15 de abril de 2014

TEATROS E MÚSICA



O Instituto Osmar Rodrigues Cruz mantêm seus blogs com muita dificuldade. Tanto é assim que por motivos técnicos junto ao Google, ficamos “fora do ar” durante todo esse tempo.

Essa parada forçada culminou com o término da primeira montagem de Victorino no Brasil. Aqui e ali ainda teremos artigos da primeira temporada, entretanto partiremos para a continuidade da grande batalha desse diretor em prol do Teatro Brasileiro. (ERC)


Acredito, que ao leitor constante de nosso Blog, pareçam repetição as inúmeras críticas de uma só peça da primeira década do século XX. Porém, em cada uma encontramos algo que acrescente, que surpreenda o texto já por nós conhecido, mesmo que não lido! Espero que assim encarem nosso esforço e nossa alegria em poder compartilhar tais preciosidades. (ERC)

COMMERCIO – s/d

TEATROS E MÚSICA

O TEATRO NACIONAL – Registremos a data auspiciosa de 1 de Outubro 1912 como o início do Teatro Nacional.
O ato da Prefeitura promovendo a concessão de uma subvenção, embora módica para a companhia nacional, e confiando ao Sr. Eduardo Victorino a organização dessa companhia merece francos louvores.
O Teatro Municipal tinha ontem o aspecto dos dias festivos e o sentimento que levou até lá a nossa melhor sociedade era muito outro que o snobismo.
A concorrência esteve brilhantíssima e S. Ex. o Sr. Presidente da República, acompanhado de sua Casa Militar, honrou essa récita inaugural com a sua presença. Começou o espetáculo às nove horas em ponto, representando-se a peça em três atos Quem não perdoa, original de D. Julia Lopes de Almeida.
ato. Ao levantar-se o pano vê-se uma sala pobremente mobiliada; nas paredes alguns quadros e manchas, no papel, denunciando o lugar de outros que já haviam sido retirados, talvez para serem vendidos, como nos faz supor o diálogo de um velho negociante de móveis usados, com seu sobrinho e caixeiro, numa cena de justa observação que obedece ao velho preceito da exposição preliminar, para dar ao espectador conhecimento dos acontecimentos que determinaram a situação em que se encontram no momento as principais personagens que vão viver em cena. Com efeito aparece a viúva D. Elvira e vende por uma bagatela o piano, seu companheiro de tempos mais felizes. Era preciso pagar aos fornecedores e o trabalho, dia e noite, não dava o suficiente para viver! Saíra o ignóbil (ilegível) e D. Elvira, como para despedir-se do velho amigo e companheiro preludia uma frase de Chopin, mas os soluços sacodem-lhe o corpo que cai sobre o teclado. Entra Ilda, sua filha única, tanto (ilegível) adorada porque sua mãe a disputara à morte, por vezes, com um heroísmo de alma forte. Ilda percebe-lhe as lágrimas, enxuga-as e faz-lhe as suas confidências. Chegara o momento em que era preciso romper o silêncio que guardava há meses, por timidez; numa ingênua confusão conta que em casa de umas alunas, belas e ricas, encontrara Gustavo, Engenheiro, bem encarreirado na vida, que ela amava e de quem era amado. Ele deveria vir dentro de poucos instantes pedi-la em casamento. Gustavo chega, com efeito encontra só D. Elvira, e expõe-lhe as suas aspirações. D. Elvira responde-lhe com a nobreza de sentimentos de uma mãe que acima de tudo coloca a felicidade de sua filha; conta-lhe com uma lealdade mesclada a sua vida de pobreza, de sacrifícios, de trabalhos, quase que de miséria, mas faz sentir que tudo sofria pela felicidade da filha e que os seus olhos vigiariam a vida inteira, essa felicidade, como dois cães de fila. Que Gustavo aguardasse alguns dias a sua resposta... refletisse... esperasse...
Gustavo retira-se, Ilda aparece. Mãe e filha enlaçam num abraço as suas almas, os seus corações. Cai o pano.
ato. São passados doze anos, estamos em casa de Gustavo. O luxo, o conforto, a representação, indicam a prosperidade do engenheiro. D. Elvira cuida das flores. Entra Ilda e pede-lhe que se encarregue de diversas comissões suas na cidade – no dentista, no joalheiro, na modista, na Cavé, etc. D. Elvira procura ralhar docemente com a filha, estranhando-lhe a mudança de caráter, a frequência das enxaquecas, a demasiada preocupação com o seu corpo, a extrema faceirice. Naqueles ternos reparos percebe-se uma leve intenção repreensiva; Ilda tenta justificar-se, mas sua mãe, sem denunciar a mais leve suspeita contra sua filha, como a colocar-lhe diante dos olhos um espelho da alma, conta-lhe pela primeira vez o seu grande segredo. Esquecida pelo marido que a deixara em abandono, quando nasceu Ilda, um ano depois de casada, ela teve um grande, um imenso amor por um homem que parecia também amá-la com violenta paixão, mas resistiu a esse sentimento escudando-lhe no amor de sua filha, para quem vivia exclusivamente. Nunca disse, nem ouviu uma frase de amor desse homem, de cujas mãos guardava ainda a impressão deliciosa do contato. Ele partiu e nunca mais ela o viu, nem dele soube...
A confidência podia ser verdadeira, mas podia igualmente ser um recurso para falar ao coração e a alma da filha que, durante toda narrativa manifestara na fisionomia espanto como se lhe houvesse adivinhado o segredo. As palavras de D. Elvira revolucionaram o espírito de Ilda, que parecia aterrada, como se sua mãe lhe lesse dentro do coração. Ela consegue que D. Elvira saia para as suas incumbências e afasta habilmente todos os criados. Momentos antes um amigo viera procurar Gustavo e lhe revelara que já murmuravam lá fora dos amores de Ilda e de Manoel Ramires. Violento, impulsivo, arrebatado, Gustavo, que pouco antes falava alegremente dos seus amores libertinos, exalta-se em ímpetos de ciúme, mas o amigo consegue levá-lo consigo.
Ilda está absolutamente só em casa; nesse momento chega Ramires que ela mandara chamar por carta. Recebe-o profundamente comovida, falando-lhe da sua imensa paixão; ele, abalado, também comovido, censura-lhe a imprudência daquele encontro; era preciso que se separassem, ele ia partir dentro de poucos dias. No desespero dessa separação, quando se despediam, pela primeira vez se enlaçam num beijo, que Gustavo vê, pois chegara cautelosamente como para surpreender sua esposa. Ao passo que Ramires sai, Gustavo entra precipitadamente, crava um punhal no seio da esposa, que rola morta num divã como se estivesse adormecida, e sai como a perseguir Ramires.
Passam-se dois segundos apenas e D. Elvira entra pela porta do jardim, em passos lentos, calmamente. Acredita que a filha está adormecida e quando vem pé ante pé como a desperta-la com um beijo, vê o punhal e recua aterrorizada. Da garganta escapam-lhe sons roucos de horror e desespero. Cai o pano.
ato. Muitos amigos, em casa de Gustavo esperam-no do júri, onde acabava de ser absolvido. Todos o felicitam, com entusiasmo, o glorificam, como a um herói. Afinal ele fica só pela primeira vez em sua casa e como se lhe remordesse a consciência, está inquieto, agitado e a excitação aumenta até o desespero e ele arremessa-se sobre o divã. Quando ergue os olhos vê uma figura tétrica a encará-lo. Era D. Elvira trajando rigoroso luto, encanecida, faces cavadas, olhos fundos, sombrios; ele ouve-lhe a voz cavernosa a exprobar-lhe o crime nefando, a lembrar-lhe a frase do seu primeiro colóquio quando ela disse que, vigiaria a felicidade de sua filha como um cão de fila. Gustavo ergue-se como para po-la fora e ela enterra-lhe um punhal no peito e da janela grita para a rua que acabava de matar o homem que lhe assassinara a filha. Cai o pano.
Por muito pálido e talvez desconexo, este resumo não pôde dar ideia da peça, que compreende muitas personagens, quando apenas falamos de três, porque nelas reside o interesse dramático propriamente. Entretanto, fazendo por essa forma a exposição, foi nosso intuito mostrar desde logo que se não trata propriamente de uma ação dramática acompanhando as paixões, os sentimentos e o caráter das personagens no seu dinamismo psicológico. A peça consta principalmente de três quadros: nos dois últimos a ação já caminhava à revelia do espectador, para chegar à crise. É a essa crise que o espectador assiste, e ela atua-lhe sobre os nervos com o fato material, com o lance violento. A intriga, propriamente, sistema nervoso do organismo dramático, não existe na peça e a sua ausência de psicologia. Desejaríamos que o próprio desenvolvimento da ação trouxesse a explicação de certos fenômenos nas frases, nos diálogos, nos gestos, em todas as manifestações da índole, do temperamento e do caráter e estávamos convencidos de que seria assim ao vermos a cena em que Gustavo pede Ilda em casamento; dessa cena deveria decorrer naturalmente a ação, justificando-se na lógica impecável da psicologia, mas assim não foi, e só presenciamos fatos até a conclusão, com prejuízo dos caracteres, da psicologia e da eterna humanidade.
Vamos particularizar.
Já dissemos que a peça começava com uma cena de justa observação, meticulosa e pormenorizada. Logo depois travamos conhecimento com D. Elvira, belíssimo tipo de mãe, encarnação sublime do amor e do sacrifício absoluto, figura digna do talento da autora. Insinua-se igualmente na simpatia do espectador a figura de Ilda, a formosa professora, jovem, pobre, profundamente honesta, que se não poupa ao trabalho para auxiliar, com o seu modesto contingente, as despesas da casa. E todo o primeiro ato decorre suavemente, com umas cenas de simplicidade, de ligeira emoção, realçando-se, na resposta de D. Elvira a Gustavo, a ideia elevada do amor de mãe. É um ato de fina comédia.
No segundo ato, passados doze anos, D. Elvira conserva certa preeminência como tipo bem estudado, mas as outras figuras (ilegível) do caráter que apresentavam. Gustavo, não se sabe porque, esqueceu a mulher e entregou-se a conquistas amorosas com o alvoroço de um rapaz leviano – dizem as outras personagens; nós o vemos apenas na transição brusca da futilidade e da indiferença pela esposa para o mais violento ciúme que o transtorna, o arrebata e o leva ao assassinato de Ilda dentro de poucos momentos. Nada, entretanto, justifica na peça essas alterações do engenheiro.
Que foi feita da modéstia de Ilda, filha dedicada, apaixonada pelo seu primeiro namorado, com o caráter bem formado no infortúnio pelo trabalho, pelo exemplo das virtudes de sua mãe? Encontramo-la no segundo ato garrida, faceira, hipócrita, destituída de senso moral, surda à voz da consciência, quando sua mãe lhe aconselha a honestidade e a virtude e obedecendo como escrava às sugestões do instinto animal. Onde a explicação desse novo modo de ser da esposa de Gustavo? Onde a intriga que nos permitisse acompanhar essa mulher na trilha tortuosa por que enveredara? O espectador no segundo ato percebe que não era a Ilda do primeiro a mesma mulher que se oferece cínica aos ardores de Ramires, mas ignora como se transformara a figura que o emocionara antes. Naturalmente, para reconhecer na apaixonada de Ramires a pobre e bela professora do primeiro ato, ele quisera saber quanto ocorrera de tal sorte grave, que modificasse fundamentalmente aquele caráter. Sem a intriga, ou antes, sem o enredo, sem a combinação de circunstâncias e de incidentes que o (ilegível) entrasse na psicologia de Ilda, como compreender?
No segundo ato surge Fausto, dizendo-se amigo de Gustavo e denunciando-lhe os boatos deprimentes da honestidade de Ilda. Porque não se preparou convenientemente o aparecimento de uma figura que nas primeiras palavras assume tamanha importância na ação? Porque o não apresentaram desde o primeiro ato, com a intimidade que o autorizasse a semelhante atitude?
Há sem dúvida belezas incontestáveis na peça de D. Julia. Sem falarmos da linguagem que tem a necessária fluidez nos diálogos, e a forma castiça desse escrito laureado; sem insistirmos nessa ideia alevantada e superiormente personificada do amor materno, vigilante, cioso até a ferocidade e vingativo, devemos mencionar aquela admirável antítese entre D. Elvira e Angela. Tanto aquela se desenhava altiva e nobre quanto esta se exibia ridícula e fútil na sua loquacidade inesgotável, na sua superficialidade mesquinha, na sua volubilidade caricata. Das outras figuras, apenas duas revelaram certo caráter, de modo a despertar interesse – a do Antenor, cativado por um gesto amável de Ilda e de Sophia. Com que felicidade a autora numa frase de três palavras apenas, deu-nos a psicologia inteira dessa rapariga! Sophia lê uns versos de Camões e ao terminar diz como por demais: “Não é feio!” Quanta futilidade revelou aquela rapariga nesse comentário indulgente!
Falemos da representação dizendo que ela agradou, confirmando as esperanças de que do modesto elenco do Sr. Eduardo Victorino pode nascer o teatro nacional.
Certo, não diremos que foram irrepreensíveis, admiráveis, os artistas, há tão pouco reunidos em conjunto, há por longo tempo desabituados de realizações artísticas, mas fazemos justiça reconhecendo-lhes no esforço inteligente um resultado superior ao que se deveria esperar num cometimento tão apressado.
O êxito da representação dá a medida do valor, da competência e da atividade do Sr. Eduardo Victorino, formando o ambiente e ensaiando a companhia.
As Sras. Maria Falcão e Lucilia Peres criaram com fino tato as duas figuras principais – D. Elvira, personificação admirável do amor de mãe, abnegado e sublime; Ilda, a jovem e bela professora, filha extremosa e depois a vítima de uma paixão louca, absorvente. Luiza de Oliveira foi de rara felicidade na tagarelice de Angela, que fez rir por vezes o auditório. Em pequenos papéis citemos Gabriela Montani, Corina Fróes, Fulvia Castelo Branco, Desdemona Barros, Judith Saldanha e Brasilia Lazaro que no 3º ato cantou com faceirice um mimoso trecho musical de A. Nepomuceno.
Dos atores cumpre mencionar Ferreira de Souza, sempre digno de apreço nas suas personagens, João Barbosa, muito correto no seu papel, Ramos num papel bem acomodado ao seu temperamento – o do Engenheiro Gustavo Ribas, Alvaro Costa um tanto frio na cena única de Manoel Ramires, Otavio Rangel, de muito caráter e pitoresco no adelo Beirão, Samuel Rosalvo, Afonso, Melo e Castelo Branco.
Os cenários muito bem pintados – talvez com demasiada fantasia o do segundo ato -; este de Angelo Lazary, os outros de Jayme Silva e Joaquim Santos.
Quiséramos falar ainda da impropriedade do título da peça, mas falta-nos tempo. Diremos algo, de outra feita, modificando talvez algum conceito menos seguro a que a precipitação de última hora tenha dado causa.
O público acolheu a peça e os artistas com particular simpatia, aplaudindo a autora e os seus interpretes e chamando-os à cena por vezes, no final dos atos. No final do 2º ato, principalmente, o público festejou calorosamente D. Julia Lopes de Almeida, os artistas e muitas vozes chamavam também o Sr. Eduardo Victorino. 

TEATROS E MÚSICA



O Instituto Osmar Rodrigues Cruz mantêm seus blogs com muita dificuldade. Tanto é assim que por motivos técnicos junto ao Google, ficamos “fora do ar” durante todo esse tempo.

Essa parada forçada culminou com o término da primeira montagem de Victorino no Brasil. Aqui e ali ainda teremos artigos da primeira temporada, entretanto partiremos para a continuidade da grande batalha desse diretor em prol do Teatro Brasileiro. (ERC)


Acredito, que ao leitor constante de nosso Blog, pareçam repetição as inúmeras críticas de uma só peça da primeira década do século XX. Porém, em cada uma encontramos algo que acrescente, que surpreenda o texto já por nós conhecido, mesmo que não lido! Espero que assim encarem nosso esforço e nossa alegria em poder compartilhar tais preciosidades. (ERC)

COMMERCIO – s/d

TEATROS E MÚSICA

O TEATRO NACIONAL – Registremos a data auspiciosa de 1 de Outubro 1912 como o início do Teatro Nacional.
O ato da Prefeitura promovendo a concessão de uma subvenção, embora módica para a companhia nacional, e confiando ao Sr. Eduardo Victorino a organização dessa companhia merece francos louvores.
O Teatro Municipal tinha ontem o aspecto dos dias festivos e o sentimento que levou até lá a nossa melhor sociedade era muito outro que o snobismo.
A concorrência esteve brilhantíssima e S. Ex. o Sr. Presidente da República, acompanhado de sua Casa Militar, honrou essa récita inaugural com a sua presença. Começou o espetáculo às nove horas em ponto, representando-se a peça em três atos Quem não perdoa, original de D. Julia Lopes de Almeida.
ato. Ao levantar-se o pano vê-se uma sala pobremente mobiliada; nas paredes alguns quadros e manchas, no papel, denunciando o lugar de outros que já haviam sido retirados, talvez para serem vendidos, como nos faz supor o diálogo de um velho negociante de móveis usados, com seu sobrinho e caixeiro, numa cena de justa observação que obedece ao velho preceito da exposição preliminar, para dar ao espectador conhecimento dos acontecimentos que determinaram a situação em que se encontram no momento as principais personagens que vão viver em cena. Com efeito aparece a viúva D. Elvira e vende por uma bagatela o piano, seu companheiro de tempos mais felizes. Era preciso pagar aos fornecedores e o trabalho, dia e noite, não dava o suficiente para viver! Saíra o ignóbil (ilegível) e D. Elvira, como para despedir-se do velho amigo e companheiro preludia uma frase de Chopin, mas os soluços sacodem-lhe o corpo que cai sobre o teclado. Entra Ilda, sua filha única, tanto (ilegível) adorada porque sua mãe a disputara à morte, por vezes, com um heroísmo de alma forte. Ilda percebe-lhe as lágrimas, enxuga-as e faz-lhe as suas confidências. Chegara o momento em que era preciso romper o silêncio que guardava há meses, por timidez; numa ingênua confusão conta que em casa de umas alunas, belas e ricas, encontrara Gustavo, Engenheiro, bem encarreirado na vida, que ela amava e de quem era amado. Ele deveria vir dentro de poucos instantes pedi-la em casamento. Gustavo chega, com efeito encontra só D. Elvira, e expõe-lhe as suas aspirações. D. Elvira responde-lhe com a nobreza de sentimentos de uma mãe que acima de tudo coloca a felicidade de sua filha; conta-lhe com uma lealdade mesclada a sua vida de pobreza, de sacrifícios, de trabalhos, quase que de miséria, mas faz sentir que tudo sofria pela felicidade da filha e que os seus olhos vigiariam a vida inteira, essa felicidade, como dois cães de fila. Que Gustavo aguardasse alguns dias a sua resposta... refletisse... esperasse...
Gustavo retira-se, Ilda aparece. Mãe e filha enlaçam num abraço as suas almas, os seus corações. Cai o pano.
ato. São passados doze anos, estamos em casa de Gustavo. O luxo, o conforto, a representação, indicam a prosperidade do engenheiro. D. Elvira cuida das flores. Entra Ilda e pede-lhe que se encarregue de diversas comissões suas na cidade – no dentista, no joalheiro, na modista, na Cavé, etc. D. Elvira procura ralhar docemente com a filha, estranhando-lhe a mudança de caráter, a frequência das enxaquecas, a demasiada preocupação com o seu corpo, a extrema faceirice. Naqueles ternos reparos percebe-se uma leve intenção repreensiva; Ilda tenta justificar-se, mas sua mãe, sem denunciar a mais leve suspeita contra sua filha, como a colocar-lhe diante dos olhos um espelho da alma, conta-lhe pela primeira vez o seu grande segredo. Esquecida pelo marido que a deixara em abandono, quando nasceu Ilda, um ano depois de casada, ela teve um grande, um imenso amor por um homem que parecia também amá-la com violenta paixão, mas resistiu a esse sentimento escudando-lhe no amor de sua filha, para quem vivia exclusivamente. Nunca disse, nem ouviu uma frase de amor desse homem, de cujas mãos guardava ainda a impressão deliciosa do contato. Ele partiu e nunca mais ela o viu, nem dele soube...
A confidência podia ser verdadeira, mas podia igualmente ser um recurso para falar ao coração e a alma da filha que, durante toda narrativa manifestara na fisionomia espanto como se lhe houvesse adivinhado o segredo. As palavras de D. Elvira revolucionaram o espírito de Ilda, que parecia aterrada, como se sua mãe lhe lesse dentro do coração. Ela consegue que D. Elvira saia para as suas incumbências e afasta habilmente todos os criados. Momentos antes um amigo viera procurar Gustavo e lhe revelara que já murmuravam lá fora dos amores de Ilda e de Manoel Ramires. Violento, impulsivo, arrebatado, Gustavo, que pouco antes falava alegremente dos seus amores libertinos, exalta-se em ímpetos de ciúme, mas o amigo consegue levá-lo consigo.
Ilda está absolutamente só em casa; nesse momento chega Ramires que ela mandara chamar por carta. Recebe-o profundamente comovida, falando-lhe da sua imensa paixão; ele, abalado, também comovido, censura-lhe a imprudência daquele encontro; era preciso que se separassem, ele ia partir dentro de poucos dias. No desespero dessa separação, quando se despediam, pela primeira vez se enlaçam num beijo, que Gustavo vê, pois chegara cautelosamente como para surpreender sua esposa. Ao passo que Ramires sai, Gustavo entra precipitadamente, crava um punhal no seio da esposa, que rola morta num divã como se estivesse adormecida, e sai como a perseguir Ramires.
Passam-se dois segundos apenas e D. Elvira entra pela porta do jardim, em passos lentos, calmamente. Acredita que a filha está adormecida e quando vem pé ante pé como a desperta-la com um beijo, vê o punhal e recua aterrorizada. Da garganta escapam-lhe sons roucos de horror e desespero. Cai o pano.
ato. Muitos amigos, em casa de Gustavo esperam-no do júri, onde acabava de ser absolvido. Todos o felicitam, com entusiasmo, o glorificam, como a um herói. Afinal ele fica só pela primeira vez em sua casa e como se lhe remordesse a consciência, está inquieto, agitado e a excitação aumenta até o desespero e ele arremessa-se sobre o divã. Quando ergue os olhos vê uma figura tétrica a encará-lo. Era D. Elvira trajando rigoroso luto, encanecida, faces cavadas, olhos fundos, sombrios; ele ouve-lhe a voz cavernosa a exprobar-lhe o crime nefando, a lembrar-lhe a frase do seu primeiro colóquio quando ela disse que, vigiaria a felicidade de sua filha como um cão de fila. Gustavo ergue-se como para po-la fora e ela enterra-lhe um punhal no peito e da janela grita para a rua que acabava de matar o homem que lhe assassinara a filha. Cai o pano.
Por muito pálido e talvez desconexo, este resumo não pôde dar ideia da peça, que compreende muitas personagens, quando apenas falamos de três, porque nelas reside o interesse dramático propriamente. Entretanto, fazendo por essa forma a exposição, foi nosso intuito mostrar desde logo que se não trata propriamente de uma ação dramática acompanhando as paixões, os sentimentos e o caráter das personagens no seu dinamismo psicológico. A peça consta principalmente de três quadros: nos dois últimos a ação já caminhava à revelia do espectador, para chegar à crise. É a essa crise que o espectador assiste, e ela atua-lhe sobre os nervos com o fato material, com o lance violento. A intriga, propriamente, sistema nervoso do organismo dramático, não existe na peça e a sua ausência de psicologia. Desejaríamos que o próprio desenvolvimento da ação trouxesse a explicação de certos fenômenos nas frases, nos diálogos, nos gestos, em todas as manifestações da índole, do temperamento e do caráter e estávamos convencidos de que seria assim ao vermos a cena em que Gustavo pede Ilda em casamento; dessa cena deveria decorrer naturalmente a ação, justificando-se na lógica impecável da psicologia, mas assim não foi, e só presenciamos fatos até a conclusão, com prejuízo dos caracteres, da psicologia e da eterna humanidade.
Vamos particularizar.
Já dissemos que a peça começava com uma cena de justa observação, meticulosa e pormenorizada. Logo depois travamos conhecimento com D. Elvira, belíssimo tipo de mãe, encarnação sublime do amor e do sacrifício absoluto, figura digna do talento da autora. Insinua-se igualmente na simpatia do espectador a figura de Ilda, a formosa professora, jovem, pobre, profundamente honesta, que se não poupa ao trabalho para auxiliar, com o seu modesto contingente, as despesas da casa. E todo o primeiro ato decorre suavemente, com umas cenas de simplicidade, de ligeira emoção, realçando-se, na resposta de D. Elvira a Gustavo, a ideia elevada do amor de mãe. É um ato de fina comédia.
No segundo ato, passados doze anos, D. Elvira conserva certa preeminência como tipo bem estudado, mas as outras figuras (ilegível) do caráter que apresentavam. Gustavo, não se sabe porque, esqueceu a mulher e entregou-se a conquistas amorosas com o alvoroço de um rapaz leviano – dizem as outras personagens; nós o vemos apenas na transição brusca da futilidade e da indiferença pela esposa para o mais violento ciúme que o transtorna, o arrebata e o leva ao assassinato de Ilda dentro de poucos momentos. Nada, entretanto, justifica na peça essas alterações do engenheiro.
Que foi feita da modéstia de Ilda, filha dedicada, apaixonada pelo seu primeiro namorado, com o caráter bem formado no infortúnio pelo trabalho, pelo exemplo das virtudes de sua mãe? Encontramo-la no segundo ato garrida, faceira, hipócrita, destituída de senso moral, surda à voz da consciência, quando sua mãe lhe aconselha a honestidade e a virtude e obedecendo como escrava às sugestões do instinto animal. Onde a explicação desse novo modo de ser da esposa de Gustavo? Onde a intriga que nos permitisse acompanhar essa mulher na trilha tortuosa por que enveredara? O espectador no segundo ato percebe que não era a Ilda do primeiro a mesma mulher que se oferece cínica aos ardores de Ramires, mas ignora como se transformara a figura que o emocionara antes. Naturalmente, para reconhecer na apaixonada de Ramires a pobre e bela professora do primeiro ato, ele quisera saber quanto ocorrera de tal sorte grave, que modificasse fundamentalmente aquele caráter. Sem a intriga, ou antes, sem o enredo, sem a combinação de circunstâncias e de incidentes que o (ilegível) entrasse na psicologia de Ilda, como compreender?
No segundo ato surge Fausto, dizendo-se amigo de Gustavo e denunciando-lhe os boatos deprimentes da honestidade de Ilda. Porque não se preparou convenientemente o aparecimento de uma figura que nas primeiras palavras assume tamanha importância na ação? Porque o não apresentaram desde o primeiro ato, com a intimidade que o autorizasse a semelhante atitude?
Há sem dúvida belezas incontestáveis na peça de D. Julia. Sem falarmos da linguagem que tem a necessária fluidez nos diálogos, e a forma castiça desse escrito laureado; sem insistirmos nessa ideia alevantada e superiormente personificada do amor materno, vigilante, cioso até a ferocidade e vingativo, devemos mencionar aquela admirável antítese entre D. Elvira e Angela. Tanto aquela se desenhava altiva e nobre quanto esta se exibia ridícula e fútil na sua loquacidade inesgotável, na sua superficialidade mesquinha, na sua volubilidade caricata. Das outras figuras, apenas duas revelaram certo caráter, de modo a despertar interesse – a do Antenor, cativado por um gesto amável de Ilda e de Sophia. Com que felicidade a autora numa frase de três palavras apenas, deu-nos a psicologia inteira dessa rapariga! Sophia lê uns versos de Camões e ao terminar diz como por demais: “Não é feio!” Quanta futilidade revelou aquela rapariga nesse comentário indulgente!
Falemos da representação dizendo que ela agradou, confirmando as esperanças de que do modesto elenco do Sr. Eduardo Victorino pode nascer o teatro nacional.
Certo, não diremos que foram irrepreensíveis, admiráveis, os artistas, há tão pouco reunidos em conjunto, há por longo tempo desabituados de realizações artísticas, mas fazemos justiça reconhecendo-lhes no esforço inteligente um resultado superior ao que se deveria esperar num cometimento tão apressado.
O êxito da representação dá a medida do valor, da competência e da atividade do Sr. Eduardo Victorino, formando o ambiente e ensaiando a companhia.
As Sras. Maria Falcão e Lucilia Peres criaram com fino tato as duas figuras principais – D. Elvira, personificação admirável do amor de mãe, abnegado e sublime; Ilda, a jovem e bela professora, filha extremosa e depois a vítima de uma paixão louca, absorvente. Luiza de Oliveira foi de rara felicidade na tagarelice de Angela, que fez rir por vezes o auditório. Em pequenos papéis citemos Gabriela Montani, Corina Fróes, Fulvia Castelo Branco, Desdemona Barros, Judith Saldanha e Brasilia Lazaro que no 3º ato cantou com faceirice um mimoso trecho musical de A. Nepomuceno.
Dos atores cumpre mencionar Ferreira de Souza, sempre digno de apreço nas suas personagens, João Barbosa, muito correto no seu papel, Ramos num papel bem acomodado ao seu temperamento – o do Engenheiro Gustavo Ribas, Alvaro Costa um tanto frio na cena única de Manoel Ramires, Otavio Rangel, de muito caráter e pitoresco no adelo Beirão, Samuel Rosalvo, Afonso, Melo e Castelo Branco.
Os cenários muito bem pintados – talvez com demasiada fantasia o do segundo ato -; este de Angelo Lazary, os outros de Jayme Silva e Joaquim Santos.
Quiséramos falar ainda da impropriedade do título da peça, mas falta-nos tempo. Diremos algo, de outra feita, modificando talvez algum conceito menos seguro a que a precipitação de última hora tenha dado causa.
O público acolheu a peça e os artistas com particular simpatia, aplaudindo a autora e os seus interpretes e chamando-os à cena por vezes, no final dos atos. No final do 2º ato, principalmente, o público festejou calorosamente D. Julia Lopes de Almeida, os artistas e muitas vozes chamavam também o Sr. Eduardo Victorino. 

domingo, 15 de dezembro de 2013

“Interview” com o Sr. Eduardo Victorino

JORNAL BRAZIL – 24/9/1912

O TEATRO NACIONAL
A Companhia Dramática para o Municipal
“Interview” com o Sr. Eduardo Victorino
O contrato foi assinado ontem – O Diretor da Companhia – O repertório – O elenco – A subvenção – As obrigações – As probabilidades – Será desta vez.

Devia ser ontem assinado, entre a Prefeitura Municipal e o Sr. Eduardo Victorino o contrato para a formação de uma companhia dramática nacional, incumbida de representar cinco originais brasileiros, escolhidos pela Academia Brasileira de Letras, na vigência do contrato do Teatro Municipal com o Sr. Guilherme da Rosa.
O Sr. Eduardo Victorino é um nome largamente conhecido no mundo teatral.
Português de origem, vindo muito novo ao Brasil, toda a sua atividade, toda a sua vida tem estado sempre estreitamente ligadas ao Teatro.
Assim, começando por ser simples espectador, foi a seguir ator, tradutor, crítico teatral, autor-ensaiador, diretor de cena, empresário, proprietário de teatro, professor da Escola Dramática, sem contar que, pelo casamento, entrou para uma família de antigos artistas, tendo sido genro do falecido ator e empresário Dias Braga.
É, pois, ou, pelo menos tem obrigação de ser um conhecedor perfeito e seguro do terreno que vai pisar, a partir da assinatura do contrato, a que nos referimos, o Sr. Eduardo Victorino e então, pareceu-nos curioso e útil ouvi-lo.
Procuramo-lo e tivemos o ensejo de o avistar momentos de ir à Prefeitura.

O que nos disse o Sr. Eduardo Victorino

- Já sei o que me quer – dissemos... Trata-se da companhia para o Municipal...
- Exato... Assinou já o contrato?
- Não. Devo assiná-lo agora.
- Tem, porém, tudo preparado para entrar em campanha?
- Que entende o meu amigo por: “tudo” – perguntou-nos.
- Repertório, elenco, data de início dos ensaios, data de estreia...
- Vamos por partes – propos. Repertório não o escolhi. Forneceu-me a Prefeitura. São cinco originais brasileiros, perfazendo 15 atos.
- E o elenco?
- Sobre o elenco não posso dar-lhe ainda.
- Ora essa!... Dar-se-á que o não tenha ainda organizado?
- Tenho mesmo apalavrado mas, compreende, só hoje é que eu fico sendo oficialmente, efetivamente, o diretor da Companhia Dramática Nacional subvencionada pela Prefeitura. Já vê que não podia ter contratos feitos com artistas, estando as coisas ainda no ar... Tenho, pois, como disse, o meu elenco projetado e se for assinado o contrato daqui à uma hora ou duas, tratarei de contratar os que convidei já e mostraram-se dispostos a trabalhar comigo. Só depois das suas respostas definitivas, poderei dar-lhe os nomes de todos.
- Esperarei. Adiante. Pelo contrato com a Prefeitura terá o Sr. Victorino 70:000$ de subvenção...
- Tal qual. Acha muito?
- Nem muito, nem pouco. Não sei a que o obriga essa subvenção...
- Ah! eu lhe digo. Obriga-me a formar a companhia, montar as cinco peças e fazê-las representar em três meses e meio. Quer dizer que, com esses 70.000$ terei que pagar 3 ½ meses de ordenados aos artistas; fazer pintar cenários e não em papel, como exige o regulamento do Municipal...
- Exige?
- Sim, senhor exige. Pelo Regulamento do teatro não podem lá servir se não cenários em pano.
- Essa agora!...
- Admira-se?
- Admiro-me, porque a tournée Guitry – viu-o eu, com estes olhos que a terra há de comer – representou todas as suas peças com cenários de papel, alguns bem bons, por sinal.
- Pois eu tenho que os fazer pintar em pano. E, mais, esses cenários como as madeiras, ferragens, adereços de cena, mesmo móveis que sejam precisos e terei de adquirir com parcelas – e gordas parcelas, creia – da subvenção, ficarão pertencendo ao Teatro.
- Soma tudo?...
- Soma tudo que os 70.000$ devem ser absorvidos totalmente com as despesas das peças, e dos artistas, nos 3 ½ meses de contrato.
- O Sr. Victorino terá então para si a renda dos espetáculos...
- Sim, das quais terei que extrair os direitos de autor, as despesas gerais (porteiros, auxiliares, bilheteiros, lotações, anúncios, reclames, etc, etc.).
- Sendo assim é um empreendimento arriscado como negócio, esse em que se vai meter...
- Melhor se poderá dizer que não é um negócio. Nem como negócio poderá alguém tomar. É uma tentativa que os poderes municipais querem fazer em prol da arte dramática nacional. Dá esperanças de êxito?... Não dá?... Não sei. Quase todos descrêem dela...
- E o senhor?...
- Eu... Francamente, não sei...
- Que o leva, então, a tomar o encargo?
- O desejo de lutar, de ver se se faz algo, se se pode sair desta apatia, desta letargia em que estamos. Há um ensejo de tentar de agir, não é verdade? Não quero ficar inativo. Se fracassar o tentamos, restar-me-á o consolo de ter empenhado todos os meus esforços para que não fracassasse.
- E se triunfar – dissemos – terá ganho a glória de deixar ligado o seu nome a uma grande obra...
Sorriu. Depois, ajeitando a luneta rebrilhante, terminou:
- Meu caro, o que lhe posso garantir que hei de ganhar, num caso ou noutro, é uma porção de inimigos...
- Inimigos?...
- Sim. O meu amigo sabe bem que em tudo nesta vida é impossível contentar tout le monde et son père... Já vê...
Puxou o relógio... Estava na hora de ir à Prefeitura. Despediu-se e lá se foi, deixando-nos no espírito esta interrogação:
- Será desta vez?...


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