FOLHA DO DIA – 6/10/1912
Teatro Municipal “QUEM NÃO PERDOA”
O público vai felizmente recebendo com simpatia a esforçada iniciativa do Sr. Eduardo Victorino que, em boa hora, aceitando a proteção da Municipalidade, tenta ressurgir a nossa arte dramática, cuja decadência era fatal, se espíritos dotados da mais forte vontade não quisessem salvá-la desse retrocesso.
Por certo, o apoio que merecia ter encontrado no grande público, dividido pelos vários teatros desta capital, a tentativa do Sr. Victorino ainda não é o que devera ser, em se tratando de uma questão nacional, para a qual todos podem indistintamente, levar o seu auxílio. Mas, a esperança de que, pouco a pouco, esse mesmo público de ordinário adverso às coisas da arte brasileira, irá reconhecendo o valor que tem um empreendimento como o que se realiza agora, no Teatro Municipal, coadjuvará frutivamente o esforço de um punhado de artistas, deve estimular todos aqueles que, no presente momento, trabalham pelo pleno êxito da nova experiência.
A peça de D. Julia Lopes de Almeida, distinta escritora respeitada pela crítica indígena, vai hoje à cena pela 5ª vez, em “matinée”, tendo se registrado nas suas anteriores representações, numerosa assistência, o que, certamente, testemunha algum interesse da parte do público pelo Teatro Nacional.
IMPRENSA – 6/10/1912
NO MUNICIPAL – UM GRANDE SUCESSO NO TEATRO BRASILEIRO
A peça de Roberto Gomes, “O Canto sem palavras”, que deve ir à cena dentro de uma semana – No dia seguinte ao da representação, a peça, em livro, será posta à venda.
Teremos dentro de poucos dias, a segunda peça da temporada brasileira do Teatro Municipal: o “Canto sem palavras”, em 3 atos, de Roberto Gomes.
Os que conhecem, de leitura, esse trabalho fazem todos a previsão de um grande sucesso no Teatro Brasileiro. De Rodrigues Barboza, o nosso primeiro crítico teatral, de João do Rio, o ilustre escritor, ouvimos sobre o “Canto”, após a sua leitura, elogios que nunca recebera ainda uma peça brasileira.
E há razão para isso. Se entre os nossos escritores que surgem vitoriosamente há algum que pareça dedicar-se profissionalmente ao teatro, esse é, sem dúvida, Roberto Gomes.
A primeira temporada oficial representou-lhe uma pequena peça; um ato único, uma jóia escolhida em concurso pela Academia, uma promessa de um grande autor.
Cremos poder anunciar a chegada desse grande autor com a peça que vai entrar para o cartaz. Parece que a promessa de Roberto Gomes vai cumprir-se desde já.
O “Canto sem palavras” é um admirável trabalho, que honra o teatro nacional e esta nova geração de autores. Ouvimo-lo três vezes, com profundo interesse que somente provocam as grandes obras.
O “Canto” é um admirável estudo psicológico, sem a menor preocupação disso. Exterioriza no teatro, ao lado de um excelente estudo da nossa sociedade e da vida elegante de Petrópolis, um drama íntimo, que faz vibrar na peça inteira o coração de um homem nobre e distinto, tipo de beleza moral, moço aos 45 anos, mas bastante generoso e profundo conhecedor do encanto fatal da juventude, para ceder-lhe o passo neste cruel caminho da vida.
É uma história de amor que nos faz palpitar, viver, sentir, vibrar, sem um único movimento menos puro, com uma psicologia magistral a Bataille, que a faz grande peça para o grande público, para as plateias mais cultas e, ao mesmo tempo, uma peça para jeunes-filles.
Será a soirée blanche da temporada: no “Canto” não há um único adultério e, quanto a violências emotivas, não tem nos seus 3 atos nem sequer uma cena com ferimentos leves.
Quanto à competência do autor em técnica de teatro, não será demais lembrar que se trata de uma nova peça escolhida em concurso da Academia, e que Roberto Gomes fez sua educação em Paris, no início desta fase intensa do Teatro Francês.
Rejane, a grande Rejane, na sua última estadia aqui, ouvindo o enredo de uma peça inédita de Roberto, pediu-lhe a tradução para o francês, prontificando-se a criá-la. Parece que satisfaz este juízo sobre o talento do autor do “Canto”.
Sobre o “Canto”, mesmo, há um fato que também merece registro. O ilustre ator que é Christiano de Souza, convidado a fazer o protagonista, numa recente tentativa frustrada de Teatro Nacional, ouviu a peça e disse, do que lhe ofereciam:
- Será o papel que mais me agradará na minha carreira...
Não é demais por tudo isso, que A Imprensa faça esta previsão de um grande sucesso no Teatro Nacional, dentro de poucos dias.
O “Canto sem palavras será exposto à venda, em livro, um dia depois de representado.
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