NOITE – 3/10/1912
Notícias
A COMPANHIA NACIONAL
Hoje não há espetáculo no Municipal.
Para amanhã está anunciada a peça de D. Julia Lopes
de Almeida – “Quem não perdoa”.
Para muita gente o Teatro Municipal, tão cheio de
mármores, de dourados, de tapetes e de poltronas ricas, precisa de toilette
especial. Deve-se acabar com esse preconceito. Quem quiser ir ao Municipal deve
ir como se fosse às outras companhias, nos teatros populares. Só as primeiras,
no Municipal, obrigam ao apuro da toilette. As outras representações são sem
exageros de elegância.
Para a próxima semana será levada à cena a peça de
Roberto Gomes – “Canto sem palavras”, estamos já em adiantados ensaios a peça
de João do Rio – “A bella Madame Vargas”.
A FUTURA TEMPORADA E A PREFEITURA – A CAMINHO DE
ERROS
A Prefeitura, com o espanto de toda a gente, na antevéspera
da inauguração da experiência do Teatro Nacional, inauguração que foi triunfante,
entregou o Teatro Municipal até outubro de cada ano, à empresa “La Teatrale”,
para exploração de companhias estrangeiras.
O contrato é de uma escandalosa fraqueza de
administração e denuncia a nenhuma esperança que o diretor do Municipal tinha, talvez,
no resultado da presente experiência.
Ora, Roma não se fez num dia e o Teatro Nacional,
dirigido com a energia e o vigor de que Eduardo Victorino deu provas na atual
situação, não se há de fazer em dois meses.
Serão precisos alguns anos de tenacidade e de
esforço, a fim de se ir provocando o pleno desabrochar das aptidões teatrais
dos escritores, pois que está flagrantemente demonstrado que não são artistas o
que nos falta, nem sequer os cenógrafos. Falta-nos a literatura teatral, que é
uma especialidade difícil, porque não tem havido teatro até hoje, e é da
literatura teatral que vivem os atores, os cenógrafos e até os porteiros de
teatro.
A atual tentativa vai dar-nos dois autores novos de
flagrantes aptidões para o Teatro – Roberto Gomes e João do Rio. Há outras
aptidões desconhecidas e muitas outras, como Oscar Lopes, Pinto da Rocha,
Arinos Pimentel, etc., desviados de produzir para o Teatro por falta de teatro
de comédia regular.
Ora, a Prefeitura não vai querer apenas, todos os
anos, durante dois reduzidos meses, ter um simulacro de Teatro Nacional no
Municipal, porque é difícil manter uma companhia homogênea; sempre tendente a
melhorar, trabalhar apenas dois meses por ano.
Qual é o artista que se vai sujeitar a rolar ao
azar durante dez longos meses para só ter trabalho garantido em dois?
Naturalmente os artistas hão de procurar contratos
e há certos contratos que não podem ser reduzidos ou discutidos.
Certamente a Prefeitura não pensou nisso ao assinar
o contrato com “La Teatrale”, deixando-se levar no engodo de que o Teatro
Nacional pode ser, não uma obrigação, mas um passatempo.
Entretanto o Teatro Nacional deve ser, para a
Prefeitura, uma preocupação séria que tem sido descurada até agora,
especialmente com o escandaloso descaso com que Da Rosa o tratou. A Prefeitura,
que recebe uma renda especial para fomentar e manter o Teatro Nacional, com um
pesado imposto sobre as companhias estrangeiras, está na obrigação moral de
empregar todos os esforços para criar o Teatro Nacional.
A atual experiência veio demonstrar que a obra a se
fazer a tal respeito é de fácil continuação. Basta o teatro e basta uma
subvenção. Ora, para se fazer uma coisa séria é preciso tempo, perseverança e
dinheiro. Dilate a Prefeitura o tempo de existência do Teatro Nacional, e dê,
dos 350 contos que tem a receber, apenas 120 contos para essa tentativa e verá
que dentro de dois anos os resultados colhidos serão flagrantes e
compensadores.
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