NOITE –
8/10/1912
O THEATRO NACIONAL E OS ALUNOS DA ESCOLA DRAMÁTICA
Algumas opiniões sobre o contrato “La Teatral”
A assinatura do contrato com “La Teatral” veio por
em sobressalto, com justificada razão, toda a gente que se interessa pelo
renascimento do Teatro Nacional, especialmente agora que a presente
experiência, no Municipal, demonstra claramente que a tentativa tem toda a
razão de a ser um fato positivo.
O alarme que esse contrato alastrou nas rodas
artísticas foi intenso. O contrato, entregando o Municipal a uma empresa estrangeira,
tirava o prédio ao Teatro Nacional. Ora o contrato, que tem sido detidamente
estudado por toda a gente, só promete companhias caras, e dá à Prefeitura o
imposto de 5% sobre a receita que toda a companhia estrangeira é obrigada a
pagar!
Como se vê é um negócio da China para a empresa “La
Teatral”.
Uma das classes mais feridas indiretamente com esse
contrato é, de certo, a dos alunos da Escola Dramática. Esses moços, que têm
perdido tempo em frequentar as aulas dum curso especial, certamente que
contavam cegamente com o estabelecimento oficial do Teatro Nacional.
Para ouvir o que eles pensam a tal respeito a A
NOITE foi até a Escola Dramática. Isto foi no sábado.
A aula tinha terminado havia minutos. Os alunos,
entretanto, comentavam a sua situação em face ao contrato de “La Teatral”,
tomando por todos como um sopro outoniço que faz desfolhar as últimas flores da
esperança...
O Sr. Manoel Bernardino, muito moço e muito
simpático, declarou logo:
- O contrato de “La Teatral”, assinado agora, vem
desfazer todas as nossas ilusões sobre o Teatro Nacional. Esse contrato entrega
o Municipal, até agora indicado para a ressurreição da nossa arte dramática, a
uma empresa estrangeira, e no mais longe possível – de maio a outubro. Que
tempo fica então para o nosso teatro? Fica-nos a pior época do ano, quando todo
mundo que pode vai veranear para Petrópolis, para Friburgo, quando nem sequer
funciona mais o Congresso... Isso ainda na melhor hipótese, na hipótese de
conseguirmos o Teatro Nacional. Entretanto a Prefeitura, com a sustentação da
Escola Dramática, dava-nos a esperança de que, fazendo atores, faria também a
companhia, impulsionando o Teatro Nacional. Moralmente a prefeitura tem a
obrigação restrita de dotar a capital com o teatro organizado...
- De certo! Exclamariam os outros alunos presentes,
que eram: Sr. Durval de Assis Baptista, José Collaço, Gilberto Pereira Goulart,
Mario Domingues, Ignácio Pinella e Heitor Thompson.
E logo depois o Sr. Durval Baptista continuou:
- Se a prefeitura não organizar o Teatro Nacional, que
faremos nós depois do curso, perdemos outras carreiras? Iremos, como quer o
colega do Sr. Passos, para o teatro por sessões? Certamente que não.
- Mas a Prefeitura acrescenta o Sr. Gilberto Pereira,
como muito bem diz A NOITE, tem a obrigação de nos dar um outro teatro. Não é
possível fazê-lo no Municipal? Arrende-se um outro ...
- Exatamente (adianta o Sr. Mario Domingues),
alugue-se outro teatro e dilate-se, pelo menos por dez meses ativos, o prazo
anual do funcionamento da companhia nacional.
- Então os Srs. dar-se-ão por satisfeitos?...
- Ser a Prefeitura criar desde já o Teatro Nacional
ainda que seja numa pequena casa de espetáculos, mas que o crie a sério,
definitivamente, desde que a atual experiência no Municipal seja aprovada pela
opinião pública.
Nós, os alunos da Escola Dramática, como a maioria
dos artistas, não fazemos questão de casa, fazemos apenas questão de teatro,
mas de teatro nacional, sério, de fins honestos e elevados.
O TEATRO NACIONAL
Entregue, como está, a Eduardo Victorino, a
experiência do novo teatro nacional deve triunfar.
Eduardo Victorino é um ensaiador competente, é
ainda um excelente administrador teatral; conhece a fundo o teatro e está
senhor de todos os recursos e defeitos com que se pode contar no nosso meio
artístico.
Já no Recreio, com a companhia Dias Braga, Eduardo
Victorino conseguiu um resultado admirável – por essa época assistimos o
Recreio, com os elementos que tinha, dar-nos o desempenho inolvidável da
“Honra”. A vontade de Eduardo Victorino, por essa ocasião, não pode desfazer os
erros tradicionalistas da empresa e a tentativa, depois, fracassou. É que a
rotina é a maior e a mais forte muralha que sempre se levanta contra as boas
iniciativas.
Desta vez, Eduardo Victorino, no Municipal, tem um
grande trabalho já preparado e já iniciado.
O elenco da companhia, por exemplo, já Victorino o
tem mais ou menos apalavrado. Já se diz que a peça de estreia será a de D.
Julia Lopes de Almeida – “Não matarás”, seguindo-se o “Canto sem Palavras” do
Sr. Roberto Gomes. Para essa peça já foi o cenógrafo Angelo Lazary a
Petrópolis, tirar “croquis” do natural.
Numa cena, que custará vários contos de réis,
Eduardo Victorino vai oferecer ao nosso público uma verdadeira novidade de
cenografia que será de um efeito maravilhoso.
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