domingo, 17 de novembro de 2013

HOJE O MESMO QUE ONTEM...

EPOCA  - 29/8/1912

TÓPICOS DO DIA

A Prefeitura faz hoje publicar o decreto abrindo o crédito de 70 contos para subvencionar uma companhia dramática nacional.
Ao mesmo tempo divulgam as publicações oficiais da Prefeitura o contrato que acaba ele de firmar com o Sr. Eduardo Victorino, organizador da referida companhia.
O tempo dirá se houve vantagem pública nesta nova aplicação dos dinheiros municipais, não faltando quem entenda que, nas condições em que se vai fazer, nenhum proveito trará à verdadeira arte nacional.
De resto, não terá muito que esperar quem aguarda a lição da experiência para definitivamente julgar o empreendimento.
Reza o aludido contrato que a temporada dramática do Municipal, subvencionada pela prefeitura, não só com os 70 contos, como ainda com a gratuidade do teatro, durará apenas de 15 de Setembro a 15 de Novembro, sendo de quatro a cinco o número de espetáculos semanais.
Depressa passará, portanto. Vale à pena esperar...
Aliás, ninguém conta com um deslumbrante sucesso artístico. A modéstia do nosso meio teatral não permite organizar de um dia para outro uma companhia de primeira ordem, nem mesmo de menos graduada classificação...
A espera, repetimos, terá sobretudo a vantagem de informar se a prefeitural subvenção foi, de fato, uma obra de proteção à arte ou de simples assistência aos artistas...

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Não somos dos que acreditam que a Sr. Eduardo Victorino vá ressuscitar a Arte Nacional, representando para o custoso mobiliário do teatro da Avenida, a matança da Sra. Julia Lopes ou os quatro continhos do Sr. Roberto Gomes. Parece-nos até que, pelo caminho tomado, não sairá grande sumo dessa tentativa. O Sr. Eduardo Victorino será um herói se conseguir tirar dali qualquer proveito teatral, pequeno que seja, pois o máximo orçado para resultar é, mediano critério um grande zero.
Começa porque os artistas, ao invés de aprenderem com as indicações técnicas do diretor da temporada oficial, desaprendem o que já sabem, porque a educação profissional dos Bernstein indígenas não vai além do gesto, que lhes tem sido muito trivial, de contrariar a interpretação sensata das peças, impondo-lhes esgares e poses esdrúxulas e ridículas.
Como, porém, foi dado a esse arreganho do teatro oficial o título de “experiência”, não é admissível que se mostre à arte patrícia a porta da rua, arrendando o Municipal a uma empresa estrangeira quando ainda não saiu de cena a primeira peça representada é verdade que com insucesso notável.
Urge, pois, que o sr. prefeito emende a mão nesse negócio, dando outro teatro aos artistas do Municipal, e melhorando assim a sua situação que no Elefante Branco, com os aleijões acadêmicos e a codilhação do sr. Eduardo Victorino, ia sendo já de coma artístico adiantadíssimo.

Uma vez, porém, que s. ex. aproveite a renda do teatro da prefeitura para dar outro teatro e outro rumo aos planos do sr. Victorino acautelando-se, é claro, contra as comidelas a que pode dar isso ensanchas o arrendamento do Municipal receberá os nossos aplausos, como os de toda a gente sensata.

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